quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Caminhos

Siga.
Prossiga.
Invente.
Reflita.
Escute.
Experimente.
Esqueça o homem que é a sua sombra.
Ele mente.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Valsa

Nem mesmo dentro do parque a sensação de vazio urbano deixou de acompanhá-lo. Não era porque corriam, trotavam, andavam, de shorts, camisetas e tênis, com aspectos mais leves, que as pessoas lhes transmitiam uma abertura maior à amplitude da vida.
Isso era algo que tinha de vir de dentro dele. E de cada um. E quando acontece, tudo muda. Inclusive o jeito de olharmos as pessoas. E, ao mesmo tempo, o jeito de as pessoas nos olharem. Prova disso foi quando, enquanto corria, vislumbrou algo novo, além da ilusão de poder e da felicidade encomendada.
Acabara de percorrer o primeiro trecho do parque e se deparou com a vista de um imenso lago e dos prédios ao fundo formando um horizonte urbano. Ouvia uma música doce, estimulante que acendia sua imaginação. O sol luzia com vigor e seu brilho acariciava a superfície da água. A mistura dava um movimento cintilante à cena.
Sobre a água, cisnes negros, brancos e cinzentos deslizavam tranquilos, passando uns pelos outros em movimentos de balé harmônico. Um espetáculo colorido definiu um novo aspecto à cidade, como se ela fosse apenas um complemento do que ele via naquele lago.
Agora sim a essência da vida havia se apresentado em seu mais nobre traje, ainda que de forma silenciosa para ele. Ainda que por causa do impulso da serotonina e da melodia agradável que ouvia no i-pod.
Sentiu no momento o pulsar de uma alegria, o núcleo dos desejos contemporâneos reunidos naquelas águas plácidas, cercadas de um agito abafado e de buzinadas tão distantes que mais pareciam o choro tímido de uma criança.
Teve ele a impressão de estar percorrendo um tapete cintilante como as águas. Os outros já não lhe pareciam emburrados e fúteis. Viraram cisnes elegantes, educados, doces e solidários, percorrendo caminhos semelhantes, mas sem atropelos.
Emergiu em sua visão um outro ritmo para essa rotina frenética que esquenta o asfalto, feita de pessoas suadas, enfeitadas e emburradas, fria apenas na aparência. Rotina medrosa, desconfiada, que no fundo esconde a nossa carência.
Mas no contorno das águas, rodeadas de árvores, São Paulo estava se transformando diante dele. A insanidade deu lugar à suavidade. As buzinadas já não incomodavam. Nem panelaços. O que importava era que, passo a passo, sentiu-se unido a todos em um caminho único, nesta corrida sem fim.
Uma nova cidade se apresentou diante de seus olhos perplexos, enquanto seu corpo se movia quase automaticamente. Linda como uma noiva, sem violências, sem xingamentos, sem truques. Sem argumentos pelo proveito próprio. Com flores explodindo nas plantas. Repletas de árvores que davam aconchego às passadas ritmadas de cada um. Harmônica, como uma valsa de Tchaikóvsky. Brilhante, como um Lago dos Cisnes.