segunda-feira, 22 de abril de 2013

Condicional

Faço o meu trabalho utilizando palavras que não gostaria. Sou frio e calculista quando sinto que não deveria. Coloco os outros na berlinda sem ter a certeza de que poderia. Escondo-me de mim mesmo sem saber o que faria, se não fosse assim. Se meu pleno potencial vibrasse em mim. Traçando meus trilhos, acalmando meus delírios. Ocorressem eles aqui ou em territórios sírios. Cato milho. Quero meu filho. Só tenho um utensílio. A aparência da perfeição. Olhar de fartura, sem ter feito refeição. Falsa moral. Moralista banal. Melhor ser um bom amador do que um mau profissional.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Aparências

Achou aquela figura um pouco estranha. Homem alto, curvilíneo, queixo pontudo, sorriso melífluo, olhar fixo em um ponto sempre distante. Falava rápido, mudava de assunto, angustiava com sua angústia. O homem o indicou para um diretor de empresa. Garantiu que o negócio era quente. Deu certo. Anos depois, ele se tornou presidente da corporação. Graças ao cara por quem ele não daria nada. Graças à intuição de não seguir a própria intuição.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Fiel

Aos homens, nada mais restou senão serem o fiel da balança. Cabe a eles fazerem da religião a vencedora. Inclusive aos padres, aos rabinos e aos mulás. O discurso, o ritual e a atitude são os sustentáculos de uma crença. Mas o ritual e o discurso nada significam sem a atitude que os endossa. Um discurso vazio e um ritual hipócrita dão a vitória aos céticos. Conduzem à embriaguez do ópio. Mas quando a atitude prevalece, Deus ganha de goleada.

Galerias

Não é porque duas pessoas não estão grudadas uma à outra que não existe o afeto entre elas. Encontram-se depois de anos em uma galeria comercial, conversam dois minutos e  se despedem, como se elas mesmas fossem uma mensagem do destino, que só anda para frente e não pode parar. Até um próximo encontro, quem sabe.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Solitário

A cada texto que ele publica na internet, sente-se como Fernando Collor. Tem vontade de gritar, para as paredes do quarto: "Não me deixem só!" Então vem o milagre. Uma pessoa curte o seu texto no facebook. É como se ele fosse envolvido por uma multidão de aplausos. No caso, de um velho amigo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Microfones

Com todo o respeito a ex-jogadores. E sem querer generalizar. Mas jornalista não pode ficar refém do complexo de inferioridade de quem trocou o futebol pelo microfone e muitas vezes busca impor conhecimento no grito. Vivência não é onipotência. Visão de campo não é visão de mundo.

Diversidade

É compreensível que negros, homossexuais e ciclistas, entre outros, se melindrem com opiniões contrárias. A exclusão a que eles foram submetidos por anos os leva a uma revolta radical, às vezes infantil, contra qualquer tipo de crítica, enquadrando como preconceito a mais simples objeção. Isso só irá se acalmar com o tempo. Respeitar as diversidades também passa por entender o sofrimento de cada uma delas.

Professores

Tempos atrás, o jogador brasileiro ia para a Europa a fim de ensinar para contribuir com o clube que o contratava. Atualmente o jogador brasileiro vai para a Europa a fim de aprender para contribuir com o clube que o contrata. O futebol brasileiro se esqueceu de que um dia já foi professor. Profissão, aliás, muito desvalorizada no "País do futebol".

Astros

A moça era nova naquela banca. Local movimentado, perto da Brigadeiro. Ele comprou seu jornal rotineiramente. Para pagar, subiu no piso de madeira. O local era apertado, entre as prateleiras de alumínio e uma geladeira de sorvetes. Não viu o rapaz que sempre o atendia. Perguntou onde estava aquele jovem de olhos claros, um pouco gordo, pele morena. Não o via há algum tempo. A menina, de cabelo preso, com uma blusa decotada e calça jeans, dilatou as pupilas, supresa pelo interesse. Logo refeita, respondeu que ele havia ido para outra banca da família, na região. "Ele prefere ficar lá". Eram primos. Ele agradeceu, foi embora e, ao atravessar a rua, observou o moço do estacionamento, com camisa verde e calça preta, do uniforme, sair do bar onde tomou um uma média com pão na chapa. Em minutos iria estar manobrando os carros com devoção, como quem manobra o destino. Sempre que reparava em pessoas assim, vinha-lhe uma curiosidade, misturada com ternura. Via neles herois. O que faziam? Do que gostavam? Onde estavam? Para onde foram? O que sonhavam enquanto transitavam das suas moradias nas periferias até o trabalho? Daquela gente simples, de um mundo quase sem dinheiro, surgiam olhares luminosos, sorrisos emblemáticos, um universo de perspecitvas, preocupações, tristezas, sonhos e esperanças. Avultavam o trabalho e o esforço. Destacava-se uma labuta digna e obstinada, geradora de amor sabe-se lá a o quê. Ele os admirava com a intensidade de quem admira um personagem das novelas. Havia semelhanças. Estes moços, em seus enredos diários, não deixavam mesmo de ser astros, das suas próprias vidas.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pessimistas

Autores como Thomas Mann e Ernest Hemingway alcançam o supremo dom de apresentar os dramas humanos com profundidade. Ao mesmo tempo, mostram-se infantis ao não resolverem estas questões com a maturidade com que as descrevem.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Reviravoltas

Hemingway ganhou o prêmio Nobel de literatura em 1954. Neste ano, o Brasil perdia, de forma melancólica, a Copa do Mundo na Suíça. O presidente Getúlio Vargas, assim como o laureado autor de "O velho e o mar", se suicidou. Anos depois, o Brasil chegou à democracia. Hemingway contribuiu com um mundo melhor ao abordar de forma tão dramática as questões humanas. E o Brasil encontrou sua identidade no futebol, ganhando cinco Copas do Mundo. Um brinde à tristeza.