sexta-feira, 29 de abril de 2011

Apaixonados

Discussões infantis sobre lances interpretativos. Acusações baratas de ambos os lados. Torcedores que quase agridem um sósia do árbitro do jogo. Clima de guerra e mentalidade tribal transitam facilmente entre o Real Madrid e o Barcelona, dois clubes tidos como os mais requintados, verdadeiros modelos a serem seguidos, numa demonstração de que apenas glamour aparente não é suficiente, tampouco as receitas de cerca de 300 milhões de euros anuais das duas agremiações. Algo longe das cifras está sendo demonstrado neste ninho de maledicências. É o lado nocivo do futebol nos últimos tempos, em que os ânimos e os números afloram enquanto os participantes do espetáculo se tornam gladiadores na luta pela sobrevivência, envolvidos pela torturante necessidade de ganhar ou ganhar. Isso não é apenas paixão, termo utilizado por muitos como desculpa para justificar as misérias humanas no futebol. Isso é algo muito pior que a paixão, no meu entender, um sentimento nobre e generoso, apesar de intenso. Um escritor certa vez disse, com sabedoria, que futebol é elegância. Mas não a elegância no vestir, no design dos uniformes, na suntuosidade da sala de troféus, na manutenção do patrimônio, nos investimentos astronômicos. Entendi como outro tipo de elegância. Aquela em que ganhar ou perder faz apenas parte de um jogo, aquela em que o adversário não simboliza um inimigo, mas um companheiro respeitável, ponte e estímulo para a própria superação rumo à vitória e humildade diante da derrota. Sou romântico. A paixão é romântica.

Labirinto

Ele não gaguejava como canhotos que foram obrigados a se tornar destros, mas mesmo assim sentia uma faca no pescoço ao falar com os outros. Não fora violentado no passado, mas vivia um mundo de horrores no presente. Sofrera espécies de violências brancas, fragmentadas, involuntárias e silenciosas. Seu mundo então se tornou fragmentado. Tinha aspectos de esquizofrênico sem que seu quadro revelasse isso. Era neurótico, mas aparentava normalidade. Suas mazelas eram subjetivas para o mundo das aparências, mas reais para ele. Não tinha diagnóstico. Apenas buscava uma saída.

Olhar

Na porta da Abadia de Westminster, o príncipe William e sua esposa Kate, agora duquesa, se entreolham logo após se casarem. Um sorriso límpido está estampado em suas faces. Uma luz de prazer e satisfação emana de seus olhares. Mesmo com aqueles trajes tradicionais e o longo véu de noiva, estão desnudos pelo amor. Parecem isolados em uma redoma, unidos por um vínculo inquebrantável, surdo a toda a multidão que os ovaciona, a todos os rituais tradicionais da monarquia e a toda a pressão em torno do casal real. Um casamento é verdadeiramente real, quando prevalecem o afeto e o companheirismo sobre o mundo exterior e sobre certos padrões sociais. Do olhar inebriado dos noivos, emerge a essência humana, verdadeiramente nobre, despojada da formalidade do título, ligada à generosidade da alma. Esse mesmo olhar, terno, radiante de alegria, se repete nos rostos de qualquer um que se casa com o ser amado. Seja nas favelas do Rio, na periferia de Trípoli, no mais distante vilarejo da Amazônia. Um sorriso com os olhos cheios de esperança ultrapassa as muralhas da violência, das misérias urbanas, do universo fechado da realeza, dos mistérios e dos enigmas de cada um. Com sua força vital, permite que a humanidade siga em frente e continue sua caminhada pelo reinado da vida.

Valentões

Os valentões estão por todo o lugar. Nos pais que intimidam filhos, nos jornalistas que criticam sem compreensão, nos colegas que gozam dos ditos mais fracos. O bullying não é só escolar. É uma agressão social presente, muitas vezes sutilmente, no cotidiano. A escola é só um símbolo, importante, de uma das origens destas ações neuróticas e psicóticas. Tentamos intimidar os outros para não nos intimidarmos com os nossos fantasmas. Fantasmas que fazem “Bu...”. Buuuuuuuuuuu.....lllying.