quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Técnicos

Ganso é um craque e não desaprendeu a jogar. Por isso, Ney Franco escolheu o caminho errado, na minha opinião. Busca provar que tem personalidade ao não dar uma sequência ao jogador. Demonstra, no entanto, pouca sabedoria para encaixá-lo no time. Isso seria ter comando e chamar a responsabilidade, algo que caracteriza os grandes técnicos nestes momentos. Daqui a pouco esta postura vai pesar contra ele...

Frequência

O programa de variedades trazia dois atores conhecidos à mesa de café-da-manhã. Ambiente sofisticado. Apresentadora elegante e gentil. E a conversa entre os três correu de forma educada, simpática. Com informações interessantes, longe de serem expostas de maneira picante. Mas um lado negativo seu viu aquilo como algo artificial. Tentava convencê-lo de que tudo não passava de um jogo de cena piegas. Logo percebeu seu erro. E não se deixou levar pela voz diabólica que tanto o atrapalhou em momentos importantes. Viu que um crítico dentro dele queria estragar o clima amistoso que o bom programa tentava passar. Depois, em momentos de lucidez, ele não poderia reclamar do sensacionalismo da TV, da perversidade da imprensa e da estupidez humana... Estes pensamentos mesquinhos sempre o tiravam de uma frequência positiva. Precisava manter-se firme, resistir à tentação destrutiva que é comum por ser mais fácil. Como pessoa, não deveria alterar esta frequência. Como telespectador, não deveria mudar de canal.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Hemingway

Levanto de madrugada, sem conseguir dormir. Vou para a sala. Sento à beira da mesa de jantar, tentando conversar com a solidão da madrugada. A alguns metros, na prateleira, vejo um livro seu, sr. Hemingway. De repente me lembrei que o sr. era um estudioso da cultura espanhola, entendia meu idioma. Quem sabe entenda o que eu não entendo e consiga as explicações que não busco. Só não me conte, por favor, o que não quero saber. Apenas sopre, de suas histórias e de seu mar, um pouco de esperança para a dor que me acompanhará para sempre. Sr. Hemingway, saiba que eu não quero saber sobre a ditadura militar no Brasil, que calou milhões de vozes, oprimiu gritos a ponto de, para muita gente, o ódio ter rendido a nobreza da democracia, quando esta foi restabelecida. Não quero saber que foi por aí que se intensificou a força das torcidas organizadas, nos anos 80, com muitos dos seus membros confundindo liberdade com falta de limites para a revolta. Nem que elas passaram a refletir o espírito de organizadas que se instaurou no Brasil, alcançando não só os políticos, como as próprias pessoas que deles reclamam. Sr. Hemingway, aqui, na aragem da distante e pacata Cochabamba, sinto que nada disso me interessa. Não preciso de explicações. Nem de cronologias sociais, com a óbvia sequência de fatos que assinalavam para seguidas tragédias. Nem fiquei sabendo do sinalizador que a Rose atirou no Maracanã. Na época, nem pedi pela desclassificação do Brasil da Copa, o que já seria um primeiro passo para se corrigir rumos jamais corrigidos. E depois, mal ouvi as explicações para as mortes de torcedores nas décadas de 90 e já neste início de século XXI, como se estivéssemos ainda na Idade Média. Não entendo também como os discursos pelo fim da violência não passaram de retórica, a ponto de, hoje, no Brasil, duas torcidas praticamente não poderem mais dividir o mesmo estádio. Algo deu errado, apesar dos discursos, mas isso não me diz respeito. Muito menos me liguei na impunidade que prevalecia a cada episódio lamentável. Pelo contrário, até em um simples jogo, despretensioso, a torcida costuma gritar "o pau vai quebrar", sem que ninguém faça nada. Depois de ganhar título no Japão, jogador tripudia adversário rebaixado, sem receber advertência de dirigente. O caos, realmente, é total, mas eu o desprezo. Repudio desculpas esfarrapadas daqueles que juram obedecer o regulamento, lamentam o ocorrido, escrevem "fica em paz" em cartazes para livrar a própria cara, mas na hora da punição começam com a velha história do "veja bem". Pouco me importa se, no Brasil, aqueles que se dizem moralizadores querem apenas que a lei valha para os outros. Posso dizer até que foi de propósito que me mantive anônima neste episódio triste. Mesmo porque ninguém quis saber o que eu sinto. Achei até engraçado as discussões que nem levaram em conta a minha pessoa, justamente a mais importante neste caso. Afinal, sou mãe. Quem reclama de prejuízo financeiro nem se lembra que a insônia maior está comigo. Mas isso também não importa, sr. Hemingway. Não quero saber de baboseiras, de santos do pau oco. Nem preciso de teses sociológicas, que tentem descobrir as causas do que eu não quero saber. Posso dizer, sr. Hemingway, que, em apenas sete dias, já estou cansada desta história toda. Destes debates esdrúxulos, cínicos. Permito-me parafrasear o poeta renascentista John Donne, que o inspirou em sua obra. Não me pergunte, portanto, por quem os sinos dobram, sr. Hemingway. Sei apenas que os sinos não dobram para eles, que só vêem a ganância, os interesses mesquinhos, o egoísmo. Para aqueles que não assumem responsabilidades. Enganados, pensam que os sinos dobram apenas para as suas ilusões. Mas não. Eles não percebem que nenhum homem é uma ilha isolada. Não se dão conta de que, quando um se vai, é como se parte do outro também fosse subtraída. Preferem aparentar tristeza para desencargo de consciência. Para depois mostrarem novamente as garras. "Não aceito isso... não tenho culpa daquilo... vou seguir o regulamento mas me sinto vítima... tenho a presunção da inocência...veja bem..." Sr. Hemingway, é como se o homem só vivesse de palavras ao vento. A verdade, sr. Hemingway, é que já falei demais. Me dou até o direito de dizer: veja bem, a manhã está chegando e tudo isso não me diz respeito. Daqui a pouco soarão as badaladas da catedral de minha saudade. Veja bem, não quero saber de mais nada. Lamento que os sinos deles não dobrem para a vida humana. O que me importa, veja bem, é por quem os meus sinos dobram. E meus sinos dobram por ti, Kevin.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Estragos

Cidade fervilhante de prédios, carros, cobiça, ganância, vaidade e interesses. Na atmosfera, emana o jogo de poder. Esta é a Nova Iorque de Tom Wolfe. Lá os selvagens estão em todos os cantos. Nos quarteirões ameaçadores e miseráveis do Bronx, nas redações dos jornais, nos luxuosos escritórios de Wall Street e nos elegantes restaurantes de Manhattan, de pratos requintados e pessoas estragadas. Somente lá?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Mandamentos

Não ultrapasse em alta velocidade, submisso a uma pressa vazia. Dentro do carro está o seu filho. Não esbraveje com os outros aos berros, sem equilíbrio e discernimento. À sua frente está o seu filho. Não deixe de dizer obrigado a alguém que lhe fez um favor. Ao seu lado está o seu filho. Busque a alegria no fundo da alma, mesmo quando parecer impossível. Quem conta suas lágrimas é o seu filho. Acalme sua inveja, contenha seu ódio, use o suor para pavimentar uma trilha. Quem o segue é o seu filho. Peça perdão, saiba chorar, reconheça suas falhas sem desistir das vitórias. Na torcida está o seu filho. Mantenha o respeito e abra mão do egoísmo na relação com seu cônjuge. Dela depende o seu filho. Seja honesto para cobrar honestidade, enriqueça seus valores antes de enriquecer seus cofres. Este saldo quem herdará é o seu filho. Levante de madrugada para ajeitar-lhe os cobertores. Quem sente frio é o seu filho. Tome cuidado com o que faz de sua vida. Ela também pertence ao seu filho.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pazes

Já estava cansado de ver cancelado seus encontros com autoridades. Era como se ele não fosse importante. Detestava não ter seus convites por e-mail respondidos pelos diplomatas. Era como se ele não existisse. E assim, esbravejava no portão, ao saber do adiamento da reunião em cima da hora. Desancava por e-mail, desabafando sua indignação por não se sentir respeitado. Esbravejava, desancava, desabafava, longe de ser criminoso. Apenas para que lhe pedissem desculpas. E assim, aliviado, ele ter a chance de responder em tom de conciliação, rumo a um entendimento pleno, de si e dos outros. "Imagina, quem pede desculpa sou eu".

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Crenças

Para os céticos, a fé não passa de conformismo. Mas ela é bem mais do que isso. É, no fundo, o inconformismo do conformismo.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Critérios

Antes de acharmos que estamos com a razão, devemos analisar com critério para não minimizar nossas atitudes e potencializar as do outro. Este filtro requer muita honestidade. E muitas vezes nos trará grandes surpresas.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Chico

Fico imaginando como deverá ser dolorosa para o Mano esta quarta, estreia de Felipão. Chico Buarque acertou quando disse que a dor da gente não sai no jornal.

Link

Há uma única diferença entre um texto no meu blog e um romance. No meu blog, cada palavra funciona como um link, que sugere um amplo portal de informações. Em um romance, o portal de informações é destrinchado, não apenas sugerido. Um dia terei a capacidade de me tornar um destrinchador de links. Nem que seja para contar as mesmas histórias. Ou explicar em detalhes o que ainda não consigo explicar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Avesso

Permita ser levado pela ânsia irracional do desafio. Pule de pára-quedas afligindo sua família. Mergulhe em apneia até o fundo do mar, tentando escapar das suas próprias profundezas desconhecidas. Mostre-se inabalável. Ou então inatacável. Entre em seu carro com o ar fleumático dos arrogantes. Ultrapasse sem necessidade. Feche, exerça silenciosamente seu status social. Entenda somente o significado fútil de bondade. Desconfie sempre dos outros. Incorpore o ceticismo moralista. Enquadre. Rotule. Seja sempre impiedoso no trato com o outro. Confunda verdades. Invente versões que atendam o seu interesse. Desvirtue em causa própria. Confie sem pestanejar em seus instintos materialistas. Despreze qualquer perigo. Se não conseguir, pelo menos finja. Esqueça-se de que está sendo observado pela luz das estrelas. Tape os ouvidos para o canto da brisa perfumada. Não pense que há barreiras nas baladas de sua boate. Encontre a saída na pirotecnia de sua vida. Embarque nas avalanches que racham estádios. Ria alto para o universo escutar sua risada empedernida. Encene. Jamais acene. Alimente-se de sua própria cantilena. Não perceba, no fim de tudo, que nada disso valeu a pena.