segunda-feira, 21 de março de 2016

Ganho

Quando menino, o seu ideal era provar a si mesmo que toda gente era boa. Adulto, ele já se satisfaz com a conclusão de que pelo menos nem toda a gente é má.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Aceno

Respiro o ar da cidade
Na quarta-feira sobre o viaduto
Lá embaixo os carros passam
Eu olho as árvores, um luxo
O sol resplandece nos prédios
Como meu amor em mim
De manhã se despediu
Com perfume de jasmim
E o aroma ficou no meu corpo
Enquanto vago por meu destino
Será isso um desatino?
Lembrar já é sopro divino
Um vento que vem do horizonte
Lá na serra da Cantareira
Por trás da fumaça cinzenta
Vejo rios e uma cachoeira
Vou andando pelo mundo
Esqueci quem me despreza
No semblante de quem passa
Um desejo, uma reza
O farol fecha, dou um tempo
Ouço a brecada, um momento
Crianças filhas de mendigos
Brincam em busca de um alento
Na balbúrdia um sentimento
No coração uma mensagem
Do amor que me acena
E me faz seguir viagem

terça-feira, 8 de março de 2016

Imagem

De novo, o metrô. A linha verde estava esvaziada. De pé, sentia o conforto do ar condicionado e seu sopro polar. O vagão em trânsito estava isolado do calor que torrava a cidade. Era como se viajássemos em um simulador, pelo tempo e pelo espaço. Vejo então meu reflexo surgir no vidro da porta automática. Passeio em velocidade, diante da imagem olhando em minha direção. O túnel escuro dá contornos verdadeiros àquela forma que se movimenta do lado de fora. Também com o braço direito erguido, a segurar a barra de ferro. Penso que estou diante de minha alma, sorrindo um sorriso irônico. Ouço por telepatia a pergunta: quem é você? Em transmutação quântica, ela chega aos meus ouvidos: quem sou eu? Até que estou bem. Penteado, cara limpa, bermuda esportiva e camisa moderna. Revigorado com a corrida pelas ruas da Bela Vista, olhando o sol se espraiar por entre nuvens e edifícios. Um retrato próprio nesta data: 7 de março de 2016. Seguro uma mochila que vai balançando durante o diálogo silencioso. Paraíso, Ana Rosa, Chácara Klabin...Permanecemos nos encarando, em olhares de amor conflituoso, até a chegada à estação. A porta se abre. Eu saio. Em busca de respostas. Para dentro de mim mesmo.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Espectros

Na velhice a gente é espectro do que a gente foi. Na infância a gente é espectro do que a gente vai ser. De espectro em espectro, a gente é.

Pedestre

Corre, corre, lá vem o carro
Corre, corre, sem parar
Corre, corre, ele vem de longe
Corre, corre, a acelerar
Corre, corre, você tá na faixa
Corre, corre, sem tropeçar
Corre, corre, não vá atrapalhar
Corre, corre, ele vai te atropelar