quarta-feira, 28 de março de 2012

Elogio

Erasmo de Roterdã escreveu em 1509 o livro Elogio da Loucura, dedicado ao amigo Thomas Morus, inglês, autor de Utopia. Teólogo de formação cristã, Erasmo aborda a loucura de forma humanista e eloquente, pelo seu lado bom e ruim. É uma sátira, um ensaio, uma ode aos ideais solidários, uma provocação à hipocrisia da sociedade da aparência. Há um momento em que ele espinafra os filósofos, como seres anti-sociais e rebate a clássica afirmação de que a política deveria contar mais com este tipo de pensador. Para ele seria um desastre permitir que filósofos comandassem governos, pela falta de habilidade que teriam em desempenhar funções práticas. A sabedoria, segundo ele, não leva a lugar nenhum. Fica no ar, para o leitor, se Erasmo está falando sério ou não. De qualquer maneira, seja por sua sabedoria ou sua loucura, é ele quem merece ser elogiado, pois sua obra o identifica em seu pedido de perdão a si mesmo.

Cama

A relação na cama era como um jogo de futebol americano em que se abraçavam intensamente, mas não se permitiam ultrapassar nenhuma jarda de sentimento. De cenhos franzidos, olhares tortos e ansiosos, eles se esfregavam entrelaçados pelos lençois, sufocando o colchão até o gozo final, um touchdown de ambos, o toque na pele sem que ninguém admitisse a derrota para a entrega, tampouco para o amor.

terça-feira, 27 de março de 2012

Incompletude

Sentia cada vez mais necessidade das palavras exatas. Das que descrevem gestos, situações, culturas, lendas. Palavras vindas de fora dele, que caracterizem pessoas, dão vida a objetos. Para se completar como escritor. Poucas palavras que sejam quase uma imagem. E falem muito mais do que mil frases.

Porteiro

O porteiro Rogério é um mineiro simples. Fica na portaria do prédio, com TV, rádio e papeis ao lado, por trás de uma janela de vidro. Era porteiro quando o jovem morava em um apartamento de lá. Foram momentos marcantes para o rapaz. Ele namorou, assistiu a importantes filmes, leu, viu novelas, acompanhou da cama duas Copas do Mundo, chegava cansado do trabalho no jornal, refletiu e sentiu-se mais fortalecido para sair, se casar e ter filhos. Consumiu-se de esperança, que superou as dores. Anos depois, morando longe e cheio de recordações, ele ainda passa pela região. Toca a campainha do portão de ferro, sobe os degraus da entrada, rodeada por jardins suspensos, e cumprimenta o Rogério. O moço conta as novidades, quem chegou, quem partiu, como vai a senhora de óculos do 84, para onde foi aquela advogada charmosa, onde está o rapaz rebelde que prestara vestibular. No fim da conversa, ele sempre pergunta sobre seu apartamento, como se tratasse de uma pessoa. “E o 76, como ele está?” O Rogério acompanha o espírito da pergunta e emenda. “Ele está bem, nele mora um casal recém-casado”. O jovem dá um sorriso, vai embora, certo de que passou seu recado ao amigo. Nem precisou dizer "cuide bem de tudo que deixei aqui”.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Diálogos

O embate entre o judaísmo espiritualizado, reformista, e a sociedade romana ambiciosa e perversa gerou um mártir: Cristo. E frutos valiosos: os cristãos espiritualizados, que vivenciaram algo semelhante ao sofrimento dos judeus, e perderam a vida por um ideal religioso. Lentamente, o pai judaísmo, o filho cristianismo e o espírito santo de Jesus, que uniu um pouco de cada um, foram desconstruindo quase mil anos de atrocidades, mentiras e corrupção que pareciam ser eternos. Por mais longo, não há regime tirano, nem de César nem de Adriano, nem de palmeirense nem de corintiano, que prevaleça sobre seus dois maiores inimigos: o pensamento e a verdade.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pedido

Tenha pena de mim, filho, por eu não ter o carro Tiida para levá-lo para a escola; por meu simples Gol não possuir vidro elétrico e eu ter de abrir a janela com a manivela; por ainda ser difícil pagar o aluguel; por eu não poder deixar o trabalho para acompanhá-lo no clube; por eu não conseguir lhe dar todas as camisas de futebol; por eu não ficar tranquilo quando tentam me diminuir perante você; por eu não deixar você comer bala sempre; por eu ser chato insistindo em lhe passar o que melhor tenho de mim; por instantes em que me irritei no trânsito; por eu ser apenas um homem comum tentando me manter forte. Tenha pena de mim nestes momentos, filho, para que, quando eu tiver um Tiida para levá-lo para a escola; tiver no carro um vidro elétrico e conseguir lhe dar todas as camisas de futebol, você trocar esta pena pela certeza de que me amou mesmo quando eu não lhe dei tudo isso, mas apenas o meu amor. E que me amaria se eu perdesse tudo, se um dia você acordasse e percebesse que essa riqueza material não passou de um sonho. E até se eu me tornasse um mendigo, lutando pela vida na rua, mas continuando a ser o seu pai.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Viajantes

Um avião passou por uma nuvem delicada lá na imensidão azul. Não era apenas um avião de metal com turbinas barulhentas. Era um conjunto de sonhos que viajava, iluminado pelo sol, deixando uma fumaça branca como rastro. Os sonhos, conduzidos em suas poltronas reclináveis, mudaram de direção. Primeiro desceram, depois fizeram uma suave curva para cima. As pontas da fumaça seguiram esta trajetória, como meninas em uma divertida dança. E então, de repente, eu vi o céu sorrir para mim.

terça-feira, 20 de março de 2012

Ciranda

Fui, passei o sábado e o domingo no clube, entre a piscina e a correria atrás dos filhos, me cansei de reclamar e ouvir reclamações, também cheguei a sorrir, me lembrei que era meu aniversário, comemorei com amigos e familiares numa pizzaria no shopping Iguatemi, pensei muito nas palavras a serem ditas, escritas ou escondidas, senti-me flutuando longe daqui, vinculado a este mundo apenas por um fino e firme cordão emocional que me fortalece, mudei um pouco neste dias, para melhor, para pior, ainda tenho medo dos precipícios, mas não tenho outro jeito, a não ser mergulhar em seu infinito branco, desafiador, imprevisível, que aponta para mim muito de mim mesmo, que eu não sabia existir. Estou mais velho, blog, mas voltei.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Consultório

Era um consultório simples, um conjugado com divisórias de Eucatex, de cor marrom clara, e carpete fino, um pouco áspero. Nas paredes, trabalhos de crianças, alguns feitos por ele, estavam emoldurados: uma flor composta de papel alumínio colado, uma árvore com lascas de lenha grudada no papel e outras figuras disformes vindas da imaginação infantil. Foi como se tudo tivesse se apagado para ele, até que, enquanto esperava a hora de ir embora do trabalho, uma palavra, vinda do entardecer, pela janela, soprou na sua mente, misturando-se com a brisa: consultório. Como se seus dedos tocassem em um interruptor interno, então, as luzes do local se acenderam dentro dele. Ele pode até sentir coisas que há muito tempo não sentia: o som do telefone tijolão (número 643944), a risada da secretária Lúcia, simpática e brincalhona, as pontas flexíveis do estetoscópio antigo, o couro preto da mala, um fusquinha atravessando o farol da Tabapuã na década de 70 e, por fim, a voz suave do pai atendendo alguém lá dentro, atencioso, depois abrindo a porta, se despedindo do paciente simples, esperando ele ir embora, depois entrando no corredor, tendo dificuldade para encontrar a chave, achando-a finalmente, trancando a porta com seu jeito todo atrapalhado e, antes de pegar o elevador, ter de voltar porque tinha se esquecido de apagar a luz, como se nunca quisesse deixar no escuro aquele consultório.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Anterior

O amor existe muito antes do ser humano. Está na luz do sol que fortalece as plantas, na fertilização do solo, na chuva que refresca a terra, na borboleta que rodopia no ar em busca da pálpebra de uma flor, na abelha que faz o mel e no filhote que se aninha ao calor da mãe, seja ela texugo, alce ou urso. O amor passeia pelo movimento da natureza, se avoluma no vento, em evoluções que sopram a vida. Muitos não aceitam a tese de que seríamos filhos de Deus. Mas não há como negar que somos filhos do amor.

terça-feira, 13 de março de 2012

Doze

No dia 12 de março, havia 83 anos, seus avós se casaram no Brasil. Viajaram lá da Europa para se conhecerem aqui, em Porto Alegre. Sua tia mais velha, filha deles, já enfraquecida, balbuciou, com ternura e lamentação, que isto não mais precisava ser comemorado, já que ambos não mais estavam por aqui, tudo era silêncio. Ele, dirigindo o carro, pensou em mil coisas. Na possibilidade da vida após a morte, na estupidez do caminhão que atravessou uma poça em velocidade, nos prédios duros ao redor, nos cabelos brancos e suaves da sua tia, no esquecimento. Se tudo aquilo estava ali, diante dele, seus avós também estavam. Ele tocou o rosto envelhecido e doce daquela senhora. Sem palavras, agradeceu a ela pelo ceticismo, que no fundo pedia um sinal de vida. Ela entendeu e retribuiu, também sem nada dizer. Apenas com um sorriso se esboçando lento. Como uma luz que vem lá do núcleo da memória, trazendo pessoas antigas, que cantam uma música suave, nos fazendo relembrar e sorrir, como se eles revivessem apenas com a nossa vontade de lhes dizer parabéns.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Acusações

É fácil, amparado por uma multidão, ficar acusando o rei de estar nu. De cima de um palanque, um jornalista grita para uma massa aflita por justiça e honestidade, quando nem ela sabe direito o que é isso. “O rei está nu”, dispara, para uma ovação em tom de torcida de futebol. “Éhhhhh!!!”, soa quase como um gozo ensandecido. Ninguém, porém, grita que a multidão está nua. Também o jornalista não gritaria para um rei que estivesse nu, mas que fosse reverenciado por um povo propenso a fingir que a nudez não existe. O jornalista acaba confundindo-se com a multidão e só grita o que ela quer ouvir. Ele apenas pensa ser um Émile Zola, que escreveu um artigo corajoso, "J´Accuse"(“Eu acuso”), em 1898, apontando que o governo francês estava nu, quando a grande maioria defendia a injusta punição ao capitão Dreyfus, judeu. Zola se expôs ao atacar o antissemitismo em uma sociedade basicamente antissemita. No Brasil dos escândalos, porém, todos acusam para se livrar de suas culpas. “O inferno são os outros”, como dizia Sartre. E o jornalista que pensa ser Zola se engana, porque ele não apenas acusa. Ele só acusa.

Aurélia

Lúcio Sulla aglutinou um exército de escravos e entrou em Roma tomando o poder. Saiu para a guerra contra o rei Mitrídates, isto por volta de 90 a.c, quando Mário e Cina entraram em Roma, massacraram os partidários de Sulla e tomaram o poder. Cina se tornou cônsul, para a fúria de Sulla. Quando Cina foi para a Grécia guerrear com Sulla, foi massacrado por seu próprio exército. Sulla retornou e massacrou seus opositores, aos milhares, aos milhões, aos berros. César quase foi um deles, não fosse a personalidade forte de sua mãe Aurélia, que enfrentou todos os perigos para conseguir o perdão do filho diante de Sulla. Roma Antiga foi marcada pela ganância, traição, assassinato, corrupção, egoísmo, perversão... Na aparência algo mudou, mas esta história ainda não acabou. E o amor de mãe também não.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Composição

Eu tinha um primo expansivo, cheio de ideias, inteligente, robusto, com olhos e lábios volumosos. Dirigia em alta velocidade, gostava de pular de paraquedas e de cantar as mulheres. Transbordava generosidade em sua alma aflita, de menino. Um dia ele me levou a uma matineé, na danceteria Tamatete. Fomos da Zona Norte ao Itaim-Bibi, com ele me contando sobre sua vida, sobre suas perspectivas. Eu, tímido e mais novo do que ele, só ouvia, pouco falava de mim. Falei pouco de mim para ele. Sempre em busca de me agradar, tentava em vão conversar sobre futebol comigo. Eu não sabia como responder, ficava sem graça por seu conhecimento na área ser menor que o meu. Ele morreu há alguns anos, aos 29 anos, asfixiado em seu quartinho, em uma casa em Poços de Caldas. Ocorreu um vazamento de gás enquanto dormia. Era tão sonhador e se foi sonhando. Certa vez, compôs uma música e, entusiasmado, mostrava para nós, contando que iria participar de um festival. Cantou tocando violão na sala de seu apartamento no Bom Retiro, entre móveis antigos, desejando a fama ou pelo menos o reconhecimento. Não se inscreveu no festival. Mas, agora, o inscrevo simbolicamente. Calo-me, como sempre fiz, para escrever os versos daquela música, na tentativa retroativa de realizar seu sonho. “Camões tem seus Lusíadas, Roberto, sua fé. E eu que só queria ter você como mulher...”

segunda-feira, 5 de março de 2012

Coragem

A obra de Amós Oz tem algo passivo e duro. Ele pede que o leitor a complemente. A angústia vem de roldão e o amor surge a conta gotas. Há um terror e uma amargura subliminares conduzindo cada enredo. Não há refresco. Como Stephen King, Amós não cede. Mas de uma maneira menos escancarada. Sua postura de adulto realista, porém, encobre os pedidos de uma criança carente. Ele quer que o leitor siga em frente, em seu lugar. E lhe diga. “Não, Oz (que significa coragem). A vida não é só sofrimento. Não é feita apenas de desencontros”. Ele bate o pé, se faz de desentendido, escreve outro trecho radicalmente triste, justamente porque não quer ser abandonado. Mas no fundo ele gosta quando o leitor continua desempenhando esta função paternal. “Oz, a ternura existe, acredite”. Ele ouve, sorri por dentro e continua se fazendo de difícil, talvez até transbordando de emoção. Mas, como bom israelense, ele não chora.

Mamãe

Quando eu era criança, minha mãe tinha razão em tudo. Venerava-a, adorava me aninhar em seu colo, muitas vezes torcendo para meu pai dar plantão e eu ir dormir ao lado dela na cama. Sentia-me protegido, muito mais do que em meu quarto escuro e propenso a visões assustadoras. Cresci. Então ela já não mais tinha razão em tudo. Ansiava por provar minha independência. Tornei-me pai e um dia concluí que meu amor por ela continuou intacto. Hoje, ligo diariamente para lhe dizer boa noite. Ela atende deitada naquele mesmo quarto. Sozinha. Percebo o movimento da vida quando desejo que meu pai estivesse lá com ela. Que plantão, que nada, volte para casa paiêêêê! Sou fruto de tudo isto. É por isso que preciso dizer boa noite todos os dias. Não só para ela, para meus filhos, para minha esposa, mas também para a minha infância. Rogo para que ela, de seu leito, tenha bons sonhos, com a canção de ninar que lhe canto e o leite com que a amamento. Uma gota de orgulho, outra de compaixão, outra de saudade. Infância minha, adocicada pelo tempo... Tenha bons sonhos. Para que você possa acordar de vez em quando em mim, revigorada.

Chaves

Tudo o que conversamos carrega uma mensagem por de trás das palavras. Um desejo real e oculto paira sob construções bem elaboradas, engraçadas, agressivas, diretas e aparentemente objetivas dos diálogos rotineiros. Só um espírito de outro mundo conseguiria decifrar este emaranhado de sentimentos e frases enredados. Ou talvez um psicanalista mais dedicado. Um dia perdi uma chave no deserto, em frente a uma casa no kibutz. Fiquei tateando a areia sem nunca encontrar o objeto. A chave carregava tudo o que eu queria dizer ao mundo e não disse. O povo judeu também caminhou 40 anos naquele mesmo deserto, tentando encontrar suas chaves. Nem a Torá o convenceu por completo de tê-la encontrado. Temos a nossa comunicação cifrada como a da bíblia, não podemos ser passivos e nos acomodarmos com chaves perdidas. Era para minha mãe ter filhos gêmeos. Mas eles morreram antes de nascer. Eu vim depois, como se fosse a chave, a solução compensatória. Mas depois que perdi minha chave no deserto ganhei a liberdade de não saber exatamente quem sou. Minha vida é tentar saber. Ninguém me ajuda, nem as montanhas imutáveis do deserto, nem as pessoas mutantes ao meu lado. Sigo em frente conformado e aliviado por ser a chave para meus infinitos encaixes, nesta busca que tem de ser eterna. Porque, afinal, não tenho cópia em nenhum dos meus bolsos vazios.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Mendigos

Um homem alto, barbudo, cabelos lisos, brancos e despenteados pedia esmola por entre os carros em uma rua em aclive. Ele andava amarrotado, vestido com uma camisa aberta e calça rasgada. O curioso é que conduzia um cachorro preto, de tamanho médio, numa correia. O olhar do cãozinho se identificava com o do dono. Era surrado, quase alienado e triste. Acompanhava-o orgulhoso e solidário, janela por janela. Se não fossem homem e cachorro, diria que eram gêmeos. O motorista acostumou-se a vê-los juntos. Até um dia em que se surpreendeu ao se deparar apenas com o cachorro, preso à correia, parado na praça ao lado. Ele parecia perdido, desesperado. Olhava para cada carro no farol fechado, com aquele choro fininho, como se perguntasse. “Você viu para onde ele foi?” O motorista não soube o que responder. Ficou em dúvida se jogava uma moedinha para o cão. Logo desistiu. Quis então sair do carro, pegar a correia e, junto com ele, ir pedir esmola de vidro em vidro. Seria uma maneira de consolar a solidão de ambos. Mas o farol abriu.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Serra

Subiu em uma elevação no mato para avistar as montanhas. Um ar úmido e perfumado de folhagem o inebriou. Seu rosto na fotografia estava tão radiante que era como se colhesse para si os raios de ouro do sol da tarde. Estava impregnado de leveza, flutuando não em seu corpo, mas na imensidão dos dorsos esverdeados das montanhas, verdadeiros paredões intercalados que emergiam ao fundo. Lá vivia a gente humilde de Paranapiacaba, os meninos e meninas que por lá ficaram e ficariam por dias e dias, observando a movimentação do dia até a noite estender suas cortinas escuras e estreladas. Até a escuridão e o silêncio se misturarem à névoa. Estavam quase isolados em seus sonhos, nestas paragens de céu gigantesco e casinhas antigas construídas em ladeiras de areia e pedra. Das montanhas, porém, também podiam avistar um futuro promissor. Uma das meninas parecia se misturar por inteiro àquele cenário rústico. Seus olhos volumosos e escuros, próximos um do outro, refletiam as cascatas escaldantes e a vegetação prenhe que borbulhava daquela terra. Menina que carregava a Vila em seu sorriso, tão límpido como a água que jorrava do ventre daquela serra.