sexta-feira, 16 de março de 2012

Consultório

Era um consultório simples, um conjugado com divisórias de Eucatex, de cor marrom clara, e carpete fino, um pouco áspero. Nas paredes, trabalhos de crianças, alguns feitos por ele, estavam emoldurados: uma flor composta de papel alumínio colado, uma árvore com lascas de lenha grudada no papel e outras figuras disformes vindas da imaginação infantil. Foi como se tudo tivesse se apagado para ele, até que, enquanto esperava a hora de ir embora do trabalho, uma palavra, vinda do entardecer, pela janela, soprou na sua mente, misturando-se com a brisa: consultório. Como se seus dedos tocassem em um interruptor interno, então, as luzes do local se acenderam dentro dele. Ele pode até sentir coisas que há muito tempo não sentia: o som do telefone tijolão (número 643944), a risada da secretária Lúcia, simpática e brincalhona, as pontas flexíveis do estetoscópio antigo, o couro preto da mala, um fusquinha atravessando o farol da Tabapuã na década de 70 e, por fim, a voz suave do pai atendendo alguém lá dentro, atencioso, depois abrindo a porta, se despedindo do paciente simples, esperando ele ir embora, depois entrando no corredor, tendo dificuldade para encontrar a chave, achando-a finalmente, trancando a porta com seu jeito todo atrapalhado e, antes de pegar o elevador, ter de voltar porque tinha se esquecido de apagar a luz, como se nunca quisesse deixar no escuro aquele consultório.

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