segunda-feira, 5 de março de 2012

Coragem

A obra de Amós Oz tem algo passivo e duro. Ele pede que o leitor a complemente. A angústia vem de roldão e o amor surge a conta gotas. Há um terror e uma amargura subliminares conduzindo cada enredo. Não há refresco. Como Stephen King, Amós não cede. Mas de uma maneira menos escancarada. Sua postura de adulto realista, porém, encobre os pedidos de uma criança carente. Ele quer que o leitor siga em frente, em seu lugar. E lhe diga. “Não, Oz (que significa coragem). A vida não é só sofrimento. Não é feita apenas de desencontros”. Ele bate o pé, se faz de desentendido, escreve outro trecho radicalmente triste, justamente porque não quer ser abandonado. Mas no fundo ele gosta quando o leitor continua desempenhando esta função paternal. “Oz, a ternura existe, acredite”. Ele ouve, sorri por dentro e continua se fazendo de difícil, talvez até transbordando de emoção. Mas, como bom israelense, ele não chora.

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