terça-feira, 13 de março de 2012

Doze

No dia 12 de março, havia 83 anos, seus avós se casaram no Brasil. Viajaram lá da Europa para se conhecerem aqui, em Porto Alegre. Sua tia mais velha, filha deles, já enfraquecida, balbuciou, com ternura e lamentação, que isto não mais precisava ser comemorado, já que ambos não mais estavam por aqui, tudo era silêncio. Ele, dirigindo o carro, pensou em mil coisas. Na possibilidade da vida após a morte, na estupidez do caminhão que atravessou uma poça em velocidade, nos prédios duros ao redor, nos cabelos brancos e suaves da sua tia, no esquecimento. Se tudo aquilo estava ali, diante dele, seus avós também estavam. Ele tocou o rosto envelhecido e doce daquela senhora. Sem palavras, agradeceu a ela pelo ceticismo, que no fundo pedia um sinal de vida. Ela entendeu e retribuiu, também sem nada dizer. Apenas com um sorriso se esboçando lento. Como uma luz que vem lá do núcleo da memória, trazendo pessoas antigas, que cantam uma música suave, nos fazendo relembrar e sorrir, como se eles revivessem apenas com a nossa vontade de lhes dizer parabéns.

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