sábado, 26 de dezembro de 2015

Surfe

A notícia sobre a morte da Rita Lee chocou o menino naquela manhã em Santos. Soube no apartamento, antes de ir para a praia com os pais e os tios. Estava aprendendo a surfar sobre a velha prancha gigante de isopor, que ganhara na semana anterior.Temeu que a notícia o deixasse abalado a ponto de não conseguir se concentrar na estreia. Ele adorava a cantora ousada, cujas músicas foram a trilha de sua rotina de férias.A prancha era rosada e ampla, quase do tamanho de uma oficial. Seu interesse em se colocar de pé sobre ela se deveu a dois motivos: primeiro, porque ele estava cansado de sair do mar com a pele toda irritada por causa do atrito de seu corpo com a superfície, em breves experiências anteriores.Depois, era a forma com que ele via aqueles jovens espertos, de cabelos longos, peles douradas, bermudões e frases descoladas, trocando o você por tu, se equilibrarem em pedaços de acrílico para superar o mar.Ele ficava espantado ao ver as silhuetas, à distância, funcionarem como sombras divinas de pequenos reis do mar se destacando na linha do horizonte. Tinha a certeza de que se equilibrar na água era como se equilibrar na vida. E saber, com calma, paciência e auto-controle, não se afogar nas ondulações do dia-a-dia.Já na praia, quando ele caminhava pelos guarda-sóis em direção ao mar, recebeu um estímulo enquanto pensava na triste notícia. Um homem, pra agradar-lhe, disse: "Ô garoto, o mar tá bom, você vai fazer a festa..." Era fim de ano e a música "a festa é sua, hoje a festa é nossa", que ele ouvia em sua TV Philco preto e branco, à beira da cama, ficou em sua mente. Ele se sentiu orgulhoso, incluído. Correndo com ela na mão, pensou: "ser surfista é isso". Aventurou-se, mesmo que não tivesse ninguém para ajudá-lo, nem ensiná-lo. Tentava, tentava, até desistir e voltar para a barraca, para desabafar suas mágoas na delícia de uma queijadinha.  E no sonho de um dia conseguir fazer a festa...Somente vários dias depois, soube que a notícia da morte da cantora era falsa. Já tinha trocado o surfe pelo jogo de bola. Talvez descrente de que pudesse se manter de pé no mar. Rendido ao boato de que não poderia se segurar diante das incertezas, das inseguranças, das mentiras alheias. O que ele não sabia, porém, é que as braçadas iniciais já haviam sido dadas. Foram as primeiras aulas de como se deve surfar a cada dia sobre os boatos da vida, tão espalhados em um mundo frenético de indiferença e de aparências nas redes sociais. Hoje eles são ainda mais rápidos. Por isso virou um surfista dos bons. Mesmo sem nunca mais ter subido em uma prancha.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Tratamento

Um primeiro diz: "bagunceiro é você!". E age: Tum, poh!!!. Outro desabafa: "você é um banana e não é guarda da urna!" E ouve a resposta do colega: "banana é você, banana é você!" Hoje é tudo você, você, você! Não se usa nem mais Vossa Excelência para xingar. Esses deputados estão mesmo muito mal-educados...

Modernidade

O moderno vive em renascimento, para se tornar pós-moderno e depois renascer, contemporâneo.

Maledicência

Falar mal de alguém pelas costas é uma forma, ainda que indireta, de se fazer bullying.