quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ambição

O velho pobre, no leito de morte, disse para o filho. "Para se sentir vivo é preciso ter dinheiro, conquistado com honestidade".

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Criativo

Do garotinho de 4 anos: "quero ser jogador de futebol e bombeiro. Mas se eu for as duas coisas, só não vou poder jogar pelo Botafogo."

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Always

Um dia achei o céu da Califórnia o mais lindo do mundo. Estava com 25 anos e acompanhava a Copa do Mundo, percorrendo com meus amigos as estradas bucólicas da região, margeando o rio às gargalhadas, contemplando o reflexo do sol nas águas e admirando as montanhas que cresciam e se multiplicavam ao nosso redor. Naquele tempo, todo sonho era possível. Parecia se realizar em meio à paisagem encantada. As brincadeiras no quarto do hotel, os longos almoços nos restaurantes, as comemorações com vários grupos à noite, davam um colorido àquele momento. Tudo remetia à plena sensação de liberdade, de descompromisso com as agruras da vida, de certeza na amizade eterna. Parecia, sob aquele céu azul luminoso, que aquilo jamais acabaria, como um vínculo que a maturidade e os compromissos da vida - casamento, filhos, trabalho - seriam incapazes de dissolver. Talvez não seja coincidência que a música mais ouvida por nós, a que marcou aquela viagem, foi Always, do Erasure. Tinha uma textura estonteante, que mesclava um instrumental eletrônico com uma voz melodiosa do vocalista, assemelhando-se a uma sinfonia ritmada. A letra diz algo sobre harmonia, compreensão e vínculo permanentes, descrevendo como eu sentia minha juventude cheia de sonhos e de amigos, a me ajudarem a superar a solidão e o medo do futuro. Uma juventude tão reluzente e forte como o céu da Califórnia. Acontece que não foi bem assim, depois de tanto termos cantado juntos aquela música. Outro dia, em um cruzamento, revi um daqueles amigos e senti a frieza em seu olhar, como se aquele azul celeste tivesse se descolorido de sua lembrança. Desconfiei até que ele queria se esquecer daquele tempo, da promessa tácita de que o valor dos amigos jamais se dissolveria na ciranda de cifras e problemas que viriam no mundo pós-onírico daqueles dias. Não foi bem assim e eu fiquei bravo. Ele disse que não poderia ir à festa do meu filho por já ter um compromisso banal. Mostrou-se indiferente. Irritei-me com a mesquinhez que o tinha assolado tão facilmente. Senti-me traído por ele ter se entregue à ânsia do egoísmo. À noite, ainda atônito, estava quase telefonando para desabafar minha frustração. No mesmo instante, porém, do rádio começaram a sair as primeiras batidas de Always, que eu não ouvia há muitos anos. Por acaso ou não, aqueles tempos californianos retornaram de supetão, junto com a locomotiva da música, me levando como um túnel que empurra rumo ao passado e nos faz sentir de novo emoções adormecidas. Foi um sopro de vida. Foi como se a melodia abrisse meus olhos. "Abra seus olhos, eu vejo, seus olhos estão abertos. Não use nenhum disfarce comigo. Venha naturalmente", diz a letra, a qual adaptei para a amizade entre duas pessoas. E tudo veio naturalmente. Desisti de telefonar, graças à música que ainda permanecia em mim como um resquício daquilo que se foi. Por causa dela, eu voltei a ficar de bem do meu amigo. Para sempre. Mesmo que ele não soubesse de nada disso.
http://www.youtube.com/watch?v=lWqJTKdznaM

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Partidos

A atual crise orçamentária dos Estados Unidos vem para mostrar que, em linhas gerais, democratas e republicanos estão longe de ser "farinha do mesmo saco".

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Faces

Muitas vezes é mais indicado eu publicar textos no meu blog do que no meu Face. Porque eles revelam muito da minha alma do que da minha face.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Protagonista

A minha verdadeira personalidade aparece logo após uma corrida. Enquanto abro os pulmões, troco o ar das preocupações pela paz interior.  Deixo de ser tímido e viro o que sou: um protagonista de meu universo. Corro e nem percebo minhas passadas. Sinto-me dançando com o ambiente que me acolhe. Se estiver na praia, vou fazendo planos enquanto sigo com os olhos a linha do horizonte. Até na cidade de concreto uma brecha de céu e um soprinho do vento já convidam à contemplação. "Amanhã vou mostrar aquele projeto que guardo há dias. A reação vai ser de total aprovação", garanto para mim. Já decidi, por causa das corridas, ligar para uma garota que me encantava e...deu em casamento. Inúmeras vezes revi na memória certos momentos que me pareceram bons, mas que, sob o calor do movimento, considerei verdadeiramente grandiosos. Vejam só, até já me imaginei cantando em público e sendo aplaudido! Correr para mim é como transformar a carranca do mundo e vê-lo sorrir à minha frente. A música do ipod também incendeia e, impulsionado pela empolgação, fiz vários amigos em meu pensamento. Esse exercício leva o homem ao pleno prazer de viver. Alivia, desestressa. Uma simples corridinha mostra o melhor lado de cada um, que eu chamaria de lado endorfínico. Correr é bom porque neste momento as coisas acontecem de maneira natural. Antes de eu ter de encarar de novo a ameaça do nada. E só voltar a existir na próxima corrida.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Itororó

Quem sabe um dia a avenida 23 de maio volte a ser um ribeirão. Será o momento em que a cidade atingirá o ápice de seu desenvolvimento, retornando às suas raízes. O paulistano encontrará uma fórmula de integrar a modernidade com a natureza. Terá avançados sistemas de metrô, vias mais equilibradas e serviços mais acessíveis. Mas também desfrutará do cheiro úmido da mata, do chiado do vento na relva, das faíscas de sol derrapando nas folhagens, do som dos pássaros se avolumando pelas árvores, do movimento contínuo do velho Itororó, sufocado pela urbanização e coberto por uma avenida cheia de pressa. Ao conseguir desafogar o leito enterrado, o paulistano estará mais manso, no bom sentido. Poderá substituir a obsessão pelo shopping por uma tarde bosque, ver o selvagem das finanças como um bom selvagem, desnudado de interesses mesquinhos. O Itororó trará mais paz, purificando-se em ciclos, entre colinas que hoje podem ser a Maestro Cardim ou a Vergueiro. Encerrará a guerra urbana e febril, trocando-a pelos movimentos naturais de uma água que será o espelho de boas histórias. O paulistano poderá nadar e até navegar em barquinhos românticos, avistando margens em flor. Será o momento em que os cidadãos terão a chance de tirar suas máscaras de asfalto. Poderão se desfazer do concreto que tenta proteger de maneira artificial e falsa, baseada no exagero das construções mal planejadas. No impulso destas marolas, cada morador experimentará o gosto doce de suas profundezas, conhecendo-se melhor, acalmando-se em seu próprio regato. O seu lado natural, rico em folhas, troncos, galhos, copas e terra se harmonizaria com um ecossistema em evolução diária. O Itororó vai fazer do paulistano alguém melhor. As pessoas deitarão mais serenas sob a poeira prateada da lua. Despertarão para um dia de surpresas, na explosão lenta de cada manhã. Irão se sentir mais fortes para não se poluírem na fumaça plúmbea. E até compartilharão mais seus frutos adocicados com seus pares. Tudo por causa da recuperação de um antigo vale. E vale para mim. Vale para você. E para quem vier. A volta do Itororó fará com que todos, enfim, mostremos com orgulho o rio que corre dentro de nós.

sábado, 5 de outubro de 2013

Suor

Para ele, escrever se tornou algo como prender a respiração e esperar pela inspiração. Mas como o pulmão se incomoda com a falta de fôlego, ele se sente angustiado cada vez que expressa sua desesperança, seu desemprego, seus dissabores em forma de palavras não escritas. Sempre viu o ato de criar como ameaçador, como se o movimento de vida despertasse fantasmas. Aplicou então um corretivo líquido em todas as frases que deixou de escrever, afogando seu bloqueio e sua descrença no liquid paper de sua alma. Experimentou o silêncio plácido do não saber, contra a cobrança interna por tudo saber. E esperou pela inspiração perdida sem, no entanto, conseguir respirar aliviado. Seu último recurso foi se transferir, junto com o computador, para uma sauna. Sempre soube, afinal, que, escrever é acima de tudo transpiração. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Filhinho

Um dia não estarei mais aqui, à beira de sua cama, esperando você dormir. Mas quero que o meu beijo afetuoso, meu abraço caloroso, minhas palavras amorosas, o estímulo de meus conselhos, minhas bençãos lhe desejando sorte, minha alegria em vê-lo alguém forte, minha crença em seu potencial, minhas frases sobre o bem e o mal, a ternura do meu olhar, as broncas que precisei lhe dar, a esperança das minhas histórias, minha confiança nas suas vitórias continuem presentes, para ajudá-lo, a cada passo de sua linda trajetória. Quero apenas que me guarde no futuro em um cantinho de sua memória.