terça-feira, 27 de março de 2012

Porteiro

O porteiro Rogério é um mineiro simples. Fica na portaria do prédio, com TV, rádio e papeis ao lado, por trás de uma janela de vidro. Era porteiro quando o jovem morava em um apartamento de lá. Foram momentos marcantes para o rapaz. Ele namorou, assistiu a importantes filmes, leu, viu novelas, acompanhou da cama duas Copas do Mundo, chegava cansado do trabalho no jornal, refletiu e sentiu-se mais fortalecido para sair, se casar e ter filhos. Consumiu-se de esperança, que superou as dores. Anos depois, morando longe e cheio de recordações, ele ainda passa pela região. Toca a campainha do portão de ferro, sobe os degraus da entrada, rodeada por jardins suspensos, e cumprimenta o Rogério. O moço conta as novidades, quem chegou, quem partiu, como vai a senhora de óculos do 84, para onde foi aquela advogada charmosa, onde está o rapaz rebelde que prestara vestibular. No fim da conversa, ele sempre pergunta sobre seu apartamento, como se tratasse de uma pessoa. “E o 76, como ele está?” O Rogério acompanha o espírito da pergunta e emenda. “Ele está bem, nele mora um casal recém-casado”. O jovem dá um sorriso, vai embora, certo de que passou seu recado ao amigo. Nem precisou dizer "cuide bem de tudo que deixei aqui”.

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