sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Avesso

Permita ser levado pela ânsia irracional do desafio. Pule de pára-quedas afligindo sua família. Mergulhe em apneia até o fundo do mar, tentando escapar das suas próprias profundezas desconhecidas. Mostre-se inabalável. Ou então inatacável. Entre em seu carro com o ar fleumático dos arrogantes. Ultrapasse sem necessidade. Feche, exerça silenciosamente seu status social. Entenda somente o significado fútil de bondade. Desconfie sempre dos outros. Incorpore o ceticismo moralista. Enquadre. Rotule. Seja sempre impiedoso no trato com o outro. Confunda verdades. Invente versões que atendam o seu interesse. Desvirtue em causa própria. Confie sem pestanejar em seus instintos materialistas. Despreze qualquer perigo. Se não conseguir, pelo menos finja. Esqueça-se de que está sendo observado pela luz das estrelas. Tape os ouvidos para o canto da brisa perfumada. Não pense que há barreiras nas baladas de sua boate. Encontre a saída na pirotecnia de sua vida. Embarque nas avalanches que racham estádios. Ria alto para o universo escutar sua risada empedernida. Encene. Jamais acene. Alimente-se de sua própria cantilena. Não perceba, no fim de tudo, que nada disso valeu a pena.

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