segunda-feira, 8 de abril de 2013

Astros

A moça era nova naquela banca. Local movimentado, perto da Brigadeiro. Ele comprou seu jornal rotineiramente. Para pagar, subiu no piso de madeira. O local era apertado, entre as prateleiras de alumínio e uma geladeira de sorvetes. Não viu o rapaz que sempre o atendia. Perguntou onde estava aquele jovem de olhos claros, um pouco gordo, pele morena. Não o via há algum tempo. A menina, de cabelo preso, com uma blusa decotada e calça jeans, dilatou as pupilas, supresa pelo interesse. Logo refeita, respondeu que ele havia ido para outra banca da família, na região. "Ele prefere ficar lá". Eram primos. Ele agradeceu, foi embora e, ao atravessar a rua, observou o moço do estacionamento, com camisa verde e calça preta, do uniforme, sair do bar onde tomou um uma média com pão na chapa. Em minutos iria estar manobrando os carros com devoção, como quem manobra o destino. Sempre que reparava em pessoas assim, vinha-lhe uma curiosidade, misturada com ternura. Via neles herois. O que faziam? Do que gostavam? Onde estavam? Para onde foram? O que sonhavam enquanto transitavam das suas moradias nas periferias até o trabalho? Daquela gente simples, de um mundo quase sem dinheiro, surgiam olhares luminosos, sorrisos emblemáticos, um universo de perspecitvas, preocupações, tristezas, sonhos e esperanças. Avultavam o trabalho e o esforço. Destacava-se uma labuta digna e obstinada, geradora de amor sabe-se lá a o quê. Ele os admirava com a intensidade de quem admira um personagem das novelas. Havia semelhanças. Estes moços, em seus enredos diários, não deixavam mesmo de ser astros, das suas próprias vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário