segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Quadra

Fim de tarde de domingo.  Pai e filho jogavam futebol na quadra society. O adulto, magro e tímido, se empolgava em ver o menininho esbanjar alegria a cada lance. Seus olhinhos brilhavam como duas estrelas. De repente, um desabafo longínquo se misturou ao anoitecer. “Pena que eu não posso mais jogar”, gritou um homem de meia-idade, à distância, com as mãos agarradas nas cercas. “Nossa, como sinto falta daquele tempo, em que jogava aí, o dia inteiro, com os amigos”, disse, em tom suave, com a voz ecoando pela quadra quase vazia. E repetiu a frase. A noite seguiu o ritmo da prosa. Desceu serena, como toque de encerramento da conversa. “Você ainda pode jogar”, respondeu o pai, tentando incentivar. “Não dá, sou infartado, não dá. Mas eu corro, tudo bem, tudo bem, eu corro”, emendou o homem, baixinho, cabelos grisalhos e olhinhos saltitantes atrás de óculos arredondados. Então aquela figura pura foi embora rápido, falando algo para si. A cena não foi triste. Apenas verdadeira. O menininho logo quis continuar o jogo. E o pai ficou pensando, enquanto tocava de leve na bola, em como aquele desabafo não carregava rancor, mas ternura. Pensou nisso já antecipando o dia em que não puder mais jogar com o menino, quando seu coração não sustentar as necessidades da juventude. Olhou para a criança, cuja preocupação eram as jogadas a serem feitas. “Lança para eu dar de cabeça, papai”. Ele estava seguro com a companhia do pai. “Feliz dia dos pais. Te amo muito, muito, papai”. O pai admirou aquela figura típica de um livro de Tolstoi. Iria guardar o diálogo curto, absorver cada palavra daquela aparição. Nada de lamento. Um dia ele iria fazer como aquele homem. Evitaria a amargura. Começara desde já a amar a própria saudade.

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