quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Misturas

O enredo de A Carne, naturalista, tem um quê de romantismo quando Manduca morre de amor por Lenita. Em Iracema, o romantismo de Alencar dá espaço para o naturalismo na descrição dos mares bravios, do canto da jandaia, dos coqueiros do Ceará. Não há escola, não há sentimento que não se complete com um contraponto. É por isso que Raul se viu como tudo e nada. É por isso que Sartre escreveu sobre o ser e o nada. É por isso que a razão de Goethe tinha como fonte a emoção. É por isso que Bergson via intuição na matemática. E que von Herder via inteligência na bondade. É por isso que o ódio se transforma em amor. E o ato de tolerar, em maneira de amar. E assim, judeus e árabes são irmãos. E a luz não existe sem a escuridão. Tampouco um problema, sem a sua solução. Afinal, o que arde cura, o que aperta segura. É por isso que Luzia-Homem era força masculina e formosura feminina. E que o homem Gil cantou seu lado mulher. E que o azul gremista admira o colorado, vermelho cor do nosso sangue. E vice-versa, antes que reclamem. É por isso que no seu sorriso há alegria e tristeza. E no seu corpo, calor e frieza. É por isso que o vento pode ser suave como a voz de Anderson Silva e agressivo como a tempestade de seu soco. É por isso que o silêncio da madrugada é tenebroso e belo. É por isso que o homem traz o mar salgado em suas lágrimas. É por isso que do sonho surge a realidade, que em giros dançantes volta a ser sonho, me conduzindo pela vida, ora inebriado, ora assustado, ora preenchido de esperança, ora no vazio da angústia, tudo isso unido na minha alma, errante como um cavalo galopante e fixa como uma bandeira tremulante. Algo comum está presente. É por isso que o espírito e a matéria se entrelaçam, se fortalecem, têm continuidade. É por isso que eu encontrei você.

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