sábado, 18 de janeiro de 2014

Rodopios

A pipa no céu azul, sobre o viaduto. Rodopia apressada, num piscar, num minuto. Voos suaves ou acelerados, acima dos carros, estressados. Ela gira, ela dança, ela salta, ela sobe, ela balança. Desenha um sorriso no firmamento, toda colorida, ela silva no vento. Eu fico parado, não ligo pro tempo, levo buzinada de um homem marrento. A pipa não ouve, ou finge não ouvir, seu objetivo apenas é não parar de subir. Parece uma alma protegendo a favela, de onde vem, lá de alguma ruela. Ninguém repara, ninguém espia, os movimentos sublimes, de pura magia. Emergem de um fio, na revoada, da alegria descalça e descamisada. A alma avança, a mão segura, não se cansa. Sonhos no ar, por instantes eternos. A rabiola a gingar, em gestos fraternos. De cima uma diz: eu sou a dança. De baixo a resposta: sou a esperança. Tão bela aliança, tanta semelhança, que se tornam uma, a pipa e a criança.

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