sexta-feira, 25 de abril de 2014

Pacaembu

Está chegando a hora. No domingo (27) a partir das 16h o coração do torcedor corintiano irá bater mais forte. Será a última vez que seu grito irá ressoar pelas arquibancadas do Pacaembu, estádio que, desde os anos 40, quando foi inaugurado, se tornou a casa do Timão. O jogo de despedida, antes da estreia do Corinthians no Itaquerão, será contra o Flamengo, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro. Foram muitos momentos marcantes que irão se eternizar na memória dos corintianos. Momentos de alegria, de tristeza, gritos de campeão e lágrimas de frustração, brigas, reclamações e muitas, muitas juras de amor ecoaram pelas alamedas do estádio, desde o Tobogã às cadeiras cobertas. E o que dizer daqueles torcedores que ficavam no alambrado, comendo sanduíche e reverberando contra o juiz, jogadores e o banco de reservas, com as mãos entrelaçadas na grades e a mente aprisionada por cada lance, cada gesto que ocorria lá dentro? Pacaembu por onde desfilaram Sócrates e sua leveza aristocrática. Neto e sua explosão, Marcelinho e seu estilo elétrico, Luizinho e seus malabarismos surpreendentes, que mais pareciam de uma criança a desfilar sua arte no templo sagrado de sua imaginação. Pacaembu que testemunhou várias épocas, de democracia, de ditadura, de desemprego e de esperança, que se revezavam no inconsciente do corintiano e de repente se apagavam por completo, se transformando em pura alegria a cada grito de gol.
Wladimir, nos anos 70 e 80, foi outro jogador que simbolizou esta ligação intensa entre clube e estádio, na verdade entre clube e a cidade. Porque por entre os arranha-céus que piscavam nas noites estreladas de quarta-feira, aquelas luzes silenciosas nada mais eram do que a cidade acolhendo uma equipe, interagindo com uma nação, de braços abertos, à sua imagem e semelhança. Quanta quartas, quantos domingos, quantos jogos ficarão para trás nesta despedida formal...Foram, no total 1683 partidas, com 962 vitórias, 395 empates e 326 derrotas. Neste palco, foram 3304 urros de gol da torcida, como o do gol de Paulo Borges na quebra do tabu contra o Santos. Explosões que estremeciam as redondezas e só emudeciam lá no céu, bem distante, onde um astronauta seria capaz de ver o planeta como um pontinho. E saber onde estaria o Pacaembu, pela energia que dele emanava em cada jogo do Corinthians. A dor do gol sofrido se repetiu por 1921 vezes. Mas não são os números o mais importante neste momento. Não são os números que irão retratar a emoção de cada momento vivido pelo corintiano neste estádio. Nem as palpitações da alma que emanavam por de trás do semblante sofrido, suado, extenuado por participar das partidas sem entrar em campo. Jogar junto apenas com a voz e a emoção. Apenas evocando os Deuses do Futebol. A isso se chama torcer. E nenhum estádio conhece tão profundamente um torcedor como o Pacaembu conhece o corintiano. É num momento como esse, de despedida, talvez um até logo, que o futebol se torna realmente grandioso. É quando o clamor se mistura à eternidade, a história é revivida em um instante, mostrando que, para o torcedor corintiano, o tempo é apenas algo subjetivo.

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