Vejo o tempo com uma brisa que sopra de dois lados. De um nos
ameaça se transformar em furacão implacável e destruidor. Vai na trilha da roda-viva do
Chico. Suga instantes. Corre efêmero como um rio que se desfaz na cachoeira de lamentações.
Leva-nos ao envelhecimento abrupto. Passa em pulos, agoniza nossa alma em um
conta-gotas de expectativas e vivências. Vira pó na ampulheta. Mas tempo,
seu rosto não é só este, na perspectiva maior da vida. Sua brisa sopra, acima
das cordilheiras e de abismos assustadores, vinda de horizontes promissores.
Basta para isso que nos aliemos a você, selando um pacto indestrutível de
amizade. A energia de Cronos, o seu Deus, então caminha ao nosso ritmo, abrindo
as portas para a nossa passagem arrebatadora. Tempo é vida, porque na morte ele
não existe. E o tempo vivo exige de nós amadurecimento e paciência. A partir
daí fica mais fácil curar feridas, se libertar de traumas, descongelar os terrores
antes calcificados em nossas geleiras interiores. A saudade se torna bem-vinda, trazendo em seu rastro recordações importantes, frases inesquecíveis, lágrimas bem vividas. A convivência com o tempo faz
dele o nosso melhor companheiro. Sua presença nos incentiva a seguir adiante, nos
acolhendo com promessas invioláveis. “Mesmo que eu voe rápido, estarei com você por
onde quer que esteja, aonde quer que vá”, é sua máxima. A esperança inexiste sem o tempo. E,
se nos consideramos eternos filhos da esperança, podemos chamar o tempo, na sua
sabedoria silenciosa, de nosso primeiro e último pai.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
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