segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Entrevistas

Um entrevistador, em geral, joga no outro a responsabilidade de passar em uma entrevista de emprego. Abre mão de interpretar a alma alheia. Acomoda-se em apenas se basear na primeira impressão. E, a capacidade de, com o tempo, o entrevistado se soltar e, impulsionado por um ambiente acolhedor, se tornar uma contratação excepcional? “Tempo?” “Mas que bobagem é o tempo!”, pensa o entrevistador. O importante para ele é o momento, quantas vezes o outro desviou o olhar, algo que, segundo normas rígidas, expressa uma estranha falta de segurança. Está em voga a pouca tolerância para falhas aparentes, gestos fora de moda, idealismos, ansiedades naturais. Se estes aparentam falta de firmeza e de assertividade, podem mostrar por outro lado honestidade. E abrem possibilidades para um mundo criativo, puro. Muitos entrevistadores hoje em dia são jovens inexperientes, que também lutam por um lugar ao sol. Há, porém, uma ilusão em torno dos truques de convencimento. Há uma busca obsessiva pelo marketing pessoal. Há um olhar distorcido que supervaloriza as regrinhas de apresentação e as técnicas de almanaque. Há uma indústria da artificialidade que banaliza a essência humana. Uma palavra mal encaixada, um time de coração diferente ou uma preferência pessoal podem frustrar expectativas de uma vida. “Fale isto, não diga aquilo”. “Seja assim, não seja assado”. “Faça e aconteça”. Em outras palavras, estas frases expressam indiferença ao indivíduo. E exclamam: “esconda-se de si mesmo”. Em uma sociedade cheia de fingimentos, fica difícil alguém passar em uma entrevista. A não ser que ele seja quem não é. Mas não tem jeito. Mais cedo ou mais tarde o verdadeiro eu vai aparecer. E sem precisar ser entrevistado.

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