quinta-feira, 14 de abril de 2016

Amigo

Eis que o vejo andando lentamente
Naquela mesma esquina da cidade
Onde tomávamos cerveja na juventude
Olhando as moças circularem livremente

Falávamos da vida, dos perigos e esperanças
Você mostrava no olhar a sua criança
Em busca de compreensão para tanta aflição
Sem muito tempo para ouvir em suas andanças

E eu bebia meus goles de idealismo
Também menino um sonho acalentava
De um dia ver toda aquela gente
Acordar do pesadelo do egoísmo

Então nós nos perdemos no caminho
Seguindo o mesmo empirismo do destino
E na trilha do passado ao presente
Entendi que o ser sempre anda sozinho

Você está velho e percorre a mesma esquina
De sandália, camisa solta e pele flácida
Passos lentos sem sair da nossa origem
E um olhar cavo que ainda se fascina

Lá de longe o observo no velho bar
Velhos gestos e me lembro como hoje
Não converso, não o chamo, só percebo
Sua insistência sempre pronto a indagar

Como fazer para conseguir sempre vencer
Como jogar sem nunca se decepcionar
Eu o amava, meu amigo, pelo que você era
E também pelo que deveria, e poderia, ser

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