segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Faces

O que está por trás das palavras ditas ou escritas? Provavelmente é o mesmo que está por de trás de um clique no computador. Derridá, Barthes e Foucault, pela semiótica e epistemologia, desvendam um mundo desconhecido das análises gramatical e sintática de um discurso. Freud faz o mesmo ao trabalhar com os mistérios do inconsciente. E o Facebook? Esta rede social que ganhou força na Internet traz em si aspectos sociais e humanos que podem revelar muita coisa. Ou permanecer apenas como uma superficial rede de contatos, para aqueles que não conseguem mergulhar no desconhecido, se afastando das idéias padronizadas. Então, o mural de cada página se torna algo monótono, pela dificuldade de se decifrar as reais intenções de frases banais e corriqueiras. Outro dia, uma situação emblemática aconteceu. Um membro judeu recebeu dois pedidos de inclusão em sua página. Um era de um ex-chefe, não-judeu, de caráter aberto, mas pretensioso. Outro era de um judeu ortodoxo, que, mesmo antes de se tornar religioso, primava por um aspecto segregacionista em suas frases, sorrisos e gestos. Engraçada essa característica do Facebook. Pode-se colocar lado a lado, virtualmente, pessoas que fazem parte de uma vida, mas que nem se conhecem. O requisitado, que já foi recusado por outros conhecidos em outros pedidos de amizade virtual, titubeou em aceitar as solicitações. E decidiu por não colocá-los no rol de amigos. Mostrou nessa atitude ainda não estar amadurecido para superar certas mágoas. Do-ex chefe, pela pretensão e arrogância. Do colega judeu, por sentir-se permanentemente avaliado. Percebeu que neste espectro entrou muita coisa de sua história, relacionada aos caminhos de sua religião, de sua comunidade, de sua mente e de sua emoção. Cada pedido de amizade e cada rosto estampado nesse portal comunitário, no fundo, dizem respeito a vários sentimentos que passeiam por nosso interior. Um clique comunica muito do que sentimos e às vezes não percebemos. Uma pessoa que imaginamos não ter afinidade no dia-a-dia pode revelar mil características ao solicitar sua amizade na Internet: timidez, pressões da vida que a deixam acabrunhada, ou qualquer outra nuance, que esconde um desejo de contato ou até uma admiração. Diante desta riqueza de detalhes, quem souber utilizar bem esse instrumento, terá uma amostra de seus próprios conflitos e contradições existenciais. O Facebook, então, deixará de ser o livro das faces, dos rostos, da aparência apenas social e se tornará um livro das almas, um retrato do que somos para nós e para o mundo real.

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