quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Parabéns

Primeiro peguei você no colo na maternidade. Depois vi seu rosto de nenê. Ouvi você falar “gol”, aos nove meses. Então acompanhei seus primeiros passos, com um ano e quatro meses. De repente, vejo tudo isso hoje reunido em seu sorriso de menino. O rosto ganhou feição, linda, é verdade. Os olhos castanhos e a pele clara já revelam a harmonia de uma criança de três anos, iluminada, que causa perplexidade em todos. Vejo você agora como um conjunto de seu desenvolvimento, como uma paisagem de peças que se encaixam a cada dia, incessantemente, depois se transformam, neste quebra-cabeça mutante, colorido, impressionista que é a sua existência, a enriquecer, a cada dia, a minha própria existência. A traduzir minha vida, libertando-me de qualquer definição de tempo e espaço. Vejo-me alforriado e aprisionado pela paternidade. Fui conduzido para outro mundo, conheci outra dimensão da realidade. Estou envolto na obrigação de homem maduro, que não tem volta. Já não sou um bobo. Às vezes até me esqueço de quem fui, de quem sou, para tentar me lembrar o tempo inteiro quem é você. Levo comigo seu passado recente, baú encantado que parece tão longínquo, onde tranquei seu primeiro respiro, seu primeiro passo, seu primeiro choro. Eles adormeceram em mim, diluíram-se em imagens abstratas. Sim, eu as guardo, mas não lembro. Todos estes momentos estão devidamente acomodados nas gavetas de minha alma. Desapegados de definições, entregues à passagem da vida, presentes na beleza da natureza que me cerca. Este cenário absoluto é o único local onde, por ser infinito, meu amor por você se mistura, além dos meus limites. À noite, quando olho para o céu límpido o vejo em mim, filho, incendiado pela luz prateada de seu sorriso. Raul é luar ao contrário.

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