sexta-feira, 8 de março de 2013

Inocência

Confesso, matei um mosquito. Foi no momento em que cheguei ao vestiário, após a corrida. Ele me perseguiu, tentando, com sua probóscide picadora, sugar uma gota do meu sangue. Ao lado da pia, vi-o rodopiar com sua perninha longa, zunir com sua antena, e escapar de minha primeira tentativa de amassá-lo com a mão. Ele girava e voltava à peleja, corajoso, ciente da missão de sua espécie, que é lutar pelo alimento até que uma mão pesada acabe com tudo. Consegui na terceira vez. Bravo mosquito, pereceu como um minúsculo touro na sua minúscula arena flutuante. Os touros sofrem quando morrem. Demoram para sucumbir, sangrando, resistentes, até tombarem as pernas trêmulas, desmoronando na areia. Os mosquitos não ficam atrás em sofrimento. Nem em honradez. Fogem, desviam, sentem fome e medo. Lutam contra a extinção. Quando morrem, uma vida se vai. Vida de inseto, como diz o filme, mas vida. Lamentei ter matado o mosquito que apenas tentou beber do meu suor. Fico triste com o episódio, por culpa e arrependimento. Minha imagem está arranhada. Agora que confessei, ninguém mais vai poder dizer que eu sou tão bondoso, que não mato nenhum mosquito.

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