quarta-feira, 24 de julho de 2013

Lenda

Sempre achei Djalma Santos um nome pomposo. De alguém antigo. De família quatocentona. Que já não estivesse mais entre nós. Surpreendi-me, quando criança, com a resposta de meu pai, após eu ter lhe perguntado há quanto tempo Djalma Santos havia morrido. “Morreu nada, tá bem vivo, mora, se não me engano, no Interior”. Além da surpresa, algo em mim se tranquilizou. Era uma espécie de calmante contra a mortalidade saber que Djalma Santos ainda estava entre nós. Via, nesse exercício imaginativo, porque ele nem era tão velho assim, um toque de longevidade. Vibrei com aquele sinal de que a vida tem continuidade, de que o passado não se extinguiu todo no pó do esquecimento. Fiquei satisfeito pelo fato de aquele nobre nome, tão distante para mim, não ser apenas saudade. Quando o assistia em entrevistas, desde então, sua simplicidade, que diferia da imagem de quatrocentão, e seu sorriso espontâneo, de um ex-sapateiro humilde e simpático, eram uma espécie de bálsamo para mim. Pensava que, nesta ciranda de mudanças rápidas que o mundo propicia, algo do passado permanecia intacto com sua presença, como uma relíquia a manter uma mensagem atuante e atual. Djalma Santos era o pretérito perfeito. Era a prova física, com olhar rejuvenescido, daquilo que se foi com o tempo. Era uma espécie de cronologia do futebol, esbanjando vigor em seu alcance quase infinito. Ele simbolizava, enfim, o topo de uma árvore genealógica que havia fincado raízes, dado frutos, mas que se mantinha firme e forte, nas alturas da glória.Vou ter de repensar algo com sua partida. A derradeira. Nem para morrer ele foi expulso. Saiu de cena lentamente, tranquilamente, como foram sua ascensão e sua carreira. Foi embora discretamente, sem tanto destaque, como ele mereceria. Mas bem como ele gostaria. Repensar para mim, é trazer aquela existência concreta para algo real e abstrato, como um retrato de Monalisa, moça que por obra da Arte, se mantém tão viva quanto misteriosa. Não sei como, mas vou ter de fazer algo assim com Djalma. Só que por meio do futebol, em todos os momentos que a bola, outra a ter de rever conceitos, simplesmente rolar. A primeira coisa que gostaria de fazer é, para mim, tirar um dos “s” daquele nome pomposo, agora mortal. E colocar um número 1. Djalma Santo 1. Daqueles idos tão longínquos, só permaneceu Nílton Santo 2. O papa está por aqui e bem que poderia aproveitar e canonizar os dois para o mundo do Esporte. Porque, no futebol, tanto Nílton quando o saudoso Djalma, são, além de lendas, os maiores Santos.

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