Falavam português com sotaque. A maioria espanhol. Mas
amaram o Brasil mais do que muitos brasileiros. Não eram imigrantes comuns,
daqueles que aportavam em navios sem nada nas mãos. Nem por isso deixaram de
desbravar um mundo desconhecido. Tiveram méritos dobrados. Embarcaram em uma
aventura, movida a pasión, llamada futebol. Ou fútbol. Descobriram mais de sua arte atuando nos campos enlameados
ou aveludados do Brasil. Conheceram o lado bom e o ruim de nosso território,
refletindo tantas vivências em suas próprias personalidades. Um pouco de
chimarrão à noite na concentração. A lembrança do Candombe no quarto do hotel. La próxima pelea. La vida. Hoy,
estão viejos, em sua maioria. Olham
para o espelho com cabelos ralos, barba embranquecida, pele flácida. Um
pigarro, um cigarro ou uma taça de vinho. Uma dose de uísque embala a
recordação. De quem eram e de como se tornaram quem são. Orgullo. Fizeram desta terra seu segundo lar. Foram humildes para
ter a ousadia de ensinar futebol por aqui. E corajosos para aprender o que a
muitos assustaria: o drible, o toque, a ginga com tempero de samba. E bailavam en la cancha. A memória já vai se dissipando. Como uma nuvem escura. A voz já se
tornou mais cansada. Já não são tão ouvidos como nas entrevistas. Esqueceram-se
de algumas expressões. Alguns se sentem esquecidos. Mas o som da multidão
cantando seus nomes ainda alimenta aquela sensação gostosa de reconhecimento. Um
dia, muito a contragosto, tiveram que dizer me
voy. E sentir que saudade é uma palavra que só existe em português.
Gracias, Rodolpho Rodriguez; Arce, Figueroa, De León e Sorín;
Rincón, Darío Pereyra, Petkovic e Pedro Rocha; Romerito e Tevez, representando
outros como Gamarra, Forlán, Ancheta e todos os estrangeiros que fazem e
fizeram sucesso no futebol brasileiro.
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