sábado, 17 de agosto de 2013

Parado

Entro no metrô apinhado. Tenho claustrofobia. Bolsas, mochilas, cachecóis e sobretudos remetem a uma tarde fria. Mas estão longe dela naquele momento.Viro de lado, todo espremido. Incomodado, estico os braços e me seguro na barra de ferro.O trem entra em movimento. Solavanco. Aquele silvo do ferro nos trilhos. Aquela sensação de estar em uma montanha-russa. A mão escorregando, o corpo se segurando. Um leve enjoo emerge da velocidade desenfreada. Então a composição para, no meio do túnel. Repentinamente. As respirações ofegantes se cruzam. Assim como os olhares. Sufocado, olho para a moça de jeans e suéter preto. Seu rosto tem espinhas, os dentes mostram um aparelho enquanto ela fala no celular. A proximidade dos passageiros faz com que se conheçam um pouco. Um praticamente se enrosca no outro. As marcas da pele, os pelos no rosto, as falhas nos cabelos. Até lágrimas não detectáveis à distância driblam a maquiagem das moças. O batom borrado, as unhas pintadas, os decotes, os gostos, os livros. Olho para o homem de cara gorda, comunicativo, que me diz que este trem é das antigas. Peço ajuda com o olhar. Quero gritar. Está tudo parado. Pela janela, vejo apenas as paredes escuras embaixo da terra. Imagino a agonia que os judeus não sentiam ao serem enviados aos campos de concentração em trens imundos e lotados. A impessoalidade dos condutores me faz lembrar da frieza nazista. Nem uma palavra de conforto. Nem mesmo uma explicação, dizendo “calma, estamos resolvendo tudo e vocês estão seguros”. O silêncio traz a mensagem cifrada de que este é um serviço público, já estamos fazendo o favor de levar vocês por um salário baixo, portanto aguentem. Ou, simplesmente: “se virem”. Viro-me, com esforço, encosto em um senhor pobre, barba rala e branca, rosto desgastado. Ele não parece preocupado. E nem me acolhe com um gesto amigo. Olho de um lado a outro em busca de aconchego. Fico imaginado se, caso me desespere, serei auxiliado ou passarei vexame. Não arrisco desafiar aquela urbanidade impessoal. Resisto. Desvio dos meus pensamentos do tipo: “e se nunca mais você sair daqui?”. Sinto o suor por debaixo de minha camisa. A angústia começa a ficar insuportável. Até que, enfim, irrompe um barulho de despressurização e a embarcação anda. Devagar, parecendo ser empurrada. E finalmente chega à plataforma. As portas se abrem, o frescor da noite entra no vagão e alivia. Eu não pago para ver. Já paguei, e para sair. Desço na hora. Sinto o corpo trêmulo, as pernas bambas, como se chegasse de uma tensa viagem de avião. Observo o trem se distanciar e a multidão se aglomerar a espera do próximo. Preferi voltar a pé, cansado após um longo dia. Temeroso em passar vexame, diante de falha tão corriqueira. Ainda mais claustrofóbico. Já eles, ficarão. De um jeito ou de outro, coitados de nós.

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