quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Saramandices

Saramandaia tem uma linguagem nova. Que traz uma mensagem diferente do convencional. O homem pode transformar sua realidade. Em surrealidade. Então os fazendeiros radicais ganham raízes que precisam arrancar por causa do amor. Os pestilentos como Zico Rosado criam formigas em seu próprio corpo. Já os idealistas e intuitivos podem até voar com a imaginação, se perderem a vergonha de Gibão. De tudo, no entanto, os neologismos são a sensação. Trazem à palavra uma nova dimensão. Morrer é desviver. Esquecer é deslembrar. E assim por diante, na língua do des. Inversões que brotam no nosso dia-a-dia, mudando rumos, transformando coisas, encobrindo cenas, revelando verdades. Um mesmo des que desfaz pode frustrar ou aliviar. Desculpe alguma coisa, por favor. Desconsidere tudo o que eu lhe disse antes. Você é muito do descarado. Isso é uma desconsideração da sua parte. Que deselegância! Você está sendo desagradável. Só o desapego cura o sofrimento... Sinto-me desobrigado a cumprir aquela meta. Desesperar jamais. Aquela reação foi desproporcional. Não me diga que ele está desenganado. Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Os inimigos, despiste, desvie, despreze. Só não desvalorize os amigos. Desembrulhe os presentes deles recebidos. E desencane. Descarregue os maus fluidos. Respeite seu lado criativo, para que ele desencante. Não o desestimule. Desembeste a sorrir, a falar coisas boas. E procure desburocratizar. Como aquele homem que desfaleceu de tanto se preocupar com os papeis. Não que seja boa a desobediência civil. Ela peca por se desligar de tudo. E a coisa toda desanda no caos. É bom desconfiar deste tipo de liberdade. Aquela que desmoraliza tudo de maneira despudorada. Com desequilíbrio. O velho desacato à autoridade. Ô doutor, descumpri alguma ordem? Só vim me despedir. Pelo menos não fui despedido. Apesar de querer ser mais destemido. Para poder ficar despido diante da pessoa certa. Diante do amor que desabrocha em flor. Na face surge um sorriso desconcertado de feliz. Emoção que desaba em uma cachoeira de lágrimas. Desfiando lindas esperanças. Xô, desencanto! Nada melhor que viver com tino. Seguir, enfim, o próprio destino. Com uma dose de desatino.  

2 comentários:

  1. Eugênio, cedi à tentação de definir o texto como (des)lumbrante. Talvez (des)encanado, numa linguagem mais atual. Foi bom (des)frutá-lo. Se me fosse permitida uma transgressão ortográfica, eu lhe daria nota des.

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  2. Obrigado Raul, fiquei contente que tenha gostado. Opinião de escritor melhor, impossível. Foi muito gentil "des" ua parte. Vamos manter contato, amigo, abraço, Eugenio.

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