segunda-feira, 16 de maio de 2016

Democratas

Hoje na banca ouvi uma conversa entre dois empresários. Um deles, de camisa social moderna, careca, óculos redondinhos, falava com um ar magnânimo, passando a impressão de que era um democrata querendo o bem do Brasil.
Analisava em tom de sobriedade o discurso do Meirelles e ponderou em estilo solene sobre a possibilidade de perda de direitos trabalhistas, de forma "equilibrada" para os empresários conseguirem levar esta nação à frente.
O ar magnânimo deste senhor era emblemático. Era o ar da "democracia que me interessa." Na "democracia que me interessa" o outro não existe. Vá ele se colocar no lugar do trabalhador que está ameaçado de perder seus direitos e que geralmente tem muito mais dificuldades do que os empresários.
Essa é a tal democracia que o Brasil construiu. Essa democracia é aquela que funciona bem nos jogos de futebol, quando o torcedor não fala nada ao ver o juiz roubar para o seu time. E urra por seus ditos direitos quando vê o juiz marcar uma falta correta contra o seu time.
Se a sua equipe vencer, ele até terá condições de demonstrar a magnanimidade conveniente e dizer a um torcedor adversário "fica para outra". Mas se perder...E se perder na outra...
Voltando ao tal empresário, fiquei com vontade de lhe dizer as rimas que tinha feito em um texto que escrevi para o R7, com o sufixo "ismo". Poderia desferir uma série de palavras que se encaixam, como nazismo, fascismo, bairrismo, oportunismo...
Mas preferi, em forma de escrita, desabafar agora com rimas em "ão", que aí vão sobre a nossa situação, ao estilo de intervenção. Percebi em última instância um aspecto tão nítido que estamos vivendo e que surgiu na minha consciência de forma clara.
É a situação de um cinismo que tenta esconder que houve um saque. Os magnânimos são saqueadores, é isso! Roubam como gângsteres na Nova York do século 19, na base da lei do xerife. Ou na Inglaterra pobre e opressiva das crianças sofridas de Charles Dickens. Roubam como empresários que sonegam nos escaninhos da madrugada para exaltarem uma falsa moralidade à luz do dia. E são tantos. E fazem isso há tanto tempo. E se dizem tão democratas...
Mas vamos ao que interessa, a rima em "ão". Houve um roubo da eleição, da lei uma usurpação, um saque à Constituição, um assalto à população, que perdeu a percepção. Houve o fim da investigação, o término da delação. E um momento sem ação. Antes, no Brasil havia corrupção. Hoje, o Brasil é a corrupção.

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