sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Turma

De repente o redemoinho do tempo lhe trouxe antigas vivências. Na escola, era o brincalhão. Soltava-se, para esconder alguma fraqueza, mas, mesmo assim, permitia-se criar, ainda que para esconder seu lado obscuro, de forma precária. E a alquimia dos dias transformou a pedra filosofal da imaginação, que deveria ser lapidada, em medo de novamente ser tachado de babaca, infantil pela sociedade competitiva com a qual se deparou depois de ultrapassar os muros da infância.
Congelou algo em seu íntimo, sentiu uma mancha taciturna em seu peito até saber que reencontraria, mais de 30 anos depois, aquela turma do ginásio e do primário, em um bar. Sabia que poderia se deparar com alguns cabelos embranquecidos, barrigas salientes, faces abatidas pela pressão da vida. Mas esperava também reencontrar sorrisos sinceros que talvez não tenha captado na alegoria frenética em que se via naqueles tempos antigos: estudar, conviver, se expor sem se mostrar frágil, sem esmorecer. Era difícil ser colega. Era difícil ser aluno. Então novamente voltou a brincar, fez piadas como há muito não fazia, despiu-se da roupagem diáfana que o descoloriu por décadas. Provocou um, outro, de forma lúdica, tal qual crianças em uma guerra de travesseiros. E ao ler as mensagens se multiplicarem nesta corrente eletrônica da internet, em que cada um falava de sua vida, exalando satisfação com a reunião, apagando mágoas, reconstruindo o passado, percebeu finalmente que não estava só. E que, na verdade, nunca esteve.

Um comentário:

  1. Nunca estamos sozinhos, não é a presença física que garante a qualidade da amizade, e sim nos momentos inesperados.
    Primário, ginásio: são a base de nossa vida, lá somos "moldados" para até o último suspiro, lembranças agradáveis e aquelas que nem sempre queremos recordar fazem parte de nosso cotidiano e alimentadas na satisfação do dia-a-dia que Raul, Diogo, Jonathan, Diego e tantos outros irão vivenciar: lições de casa, brigas com os colegas, provas, colecionar figurinhas, torcer pro time, levar bronca da professora mais chata, colar na prova, a primeira paixão....o ciclo se repete.
    Nenhuma escola ensina como ser adulto, mas aprendemos com cada pessoa que vivemos no primário e ginásio o que desejamos para nosso futuro.
    JK

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