quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Gálapagos

Nunca deu muita atenção à pergunta "com quem gostaria de estar em uma ilha deserta?" Até o momento em que se viu solitário na ilha de Galápagos. Lugar inóspito aquele. Assustador. Ao seu redor, picos vulcânicos, praias desertas, animais exóticos, como na antiguidade. Tudo se mantinha como há cinco milhões de anos.
Sem alternativas, ele montou uma barraca com a lona que restou do navio. E lá ficou por anos. Fez fogueira, olhou o horizonte. Avistar um celular móvel com TV digital boiando sobre o mar transparente foi um milagre. Ainda maior quando conseguiu ligar o aparelho e sintonizar na TV do Equador.
Voltou à infância ao assistir as novelas que o marcaram, agora em outra linguagem: Baila Comigo; Pai Herói; Sétimo Sentido. Quando viu uma água-viva tentar abocanhá-lo sem sucesso, lembrou-se da trama com aquele nome. Em cada enredo havia vida, emoções, romances, beijos, personagens iluminados, em busca de objetivos, como se fossem reais.
As cenas se configuravam uma ponte dele com o mundo. A resolução dos dramas televisivos demorava, mas sempre no final se fazia a justiça. O amor vinha para os que mereciam, assim como a punição ao vilão se transformava em aprendizado eterno.
Aquele retrato, na verdade, era o cenário onde ele se desenvolveu. As novelas sempre foram sua salvação. Ao ver-se aprisionado nos Gálapagos de sua existência, compreendeu a pergunta inicial. O porquê de seus figurinos, de seu roteiro taciturno e sem fim. Entendeu que gostaria é de estar consigo, mas silenciando ruídos ameaçadores da sua ilha. Com outra paisagem. Das pedras emergiria uma vegetação. Já estaria bom ter a chance de despertar paixões com a sua paixão, mostrar sua face em um cenário fértil. Vislumbrou a tela imaginária como uma janela. Era mergulhar e se reconhecer finalmente como um heroi de novela, sendo apenas ele mesmo.

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