quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Prima

Minha prima mais velha passou uma temporada na praia, com a minha família. Eram minhas férias escolares. Eu, no entanto, não deixava de pensar em uma menina de minha classe. Estava apaixonado. A garota passava férias perto de mim, mas nunca eu conseguia vê-la. Eram desses sentimentos juvenis que se tornam torturantes, nos arrebatam e nos deixam nas cordas bambas de nossa insegurança. Destacavam-se em minha prima a pele bronzeada, em harmonia com os cabelos lisos e castanhos. Sua beleza, porém, não me assustava. A voz suave, feminina, desta moça, que vivia o fim da adolescência, é que me acalmaram.
Naqueles dias, me confessava com ela, abria meu coração. Confiava em seu acolhimento e até hoje o tenho como verdadeiro. Depois, nunca mais conversamos com tanta profundidade.
O namoro com a menina nunca ocorreu. Talvez envergonhado pelo trauma, e por outros futuros, afastei-me da minha prima. Cansei-me de desabafar com outras pessoas não tão confiáveis.
Somente agora, passados muitos anos, pude me aproximar dela novamente, ainda com receio. Deixei-a me ver trocar a fralda de meu filho, no quarto de seus pais. Enquanto ela via a criança desnuda, de pernas para cima, senti-a tão próxima como outrora.
Tive vontade de desabafar sobre meus temores. Mas palavras de menino não caberiam mais em um adulto. Meu filho já se desnudara por mim. Se eu falasse algo, sabia que ela iria entender. Sua ternura era a mesma. Eu é que já não era.

Nenhum comentário:

Postar um comentário