domingo, 12 de dezembro de 2010

Dominador

A frase balbuciante, repleta de consciência, superou o alarido da pizzaria. Estavam sentados no fundo, em uma confraternização familiar. A velha senhora, gestos lentos, pediu que ele se aproximasse. E sussurrou: “Aproveite enquanto você é jovem”.
Já com 40, ele até vinha pensando sobre isso ultimamente. E quando ela continuou a lhe falar, lembrando que o tio dele não gostava quando ele batia o saleiro na mesa, uma sensação o envolveu. Tempo. Era uma época em que o tempo parecia ser infinito, em que ele se sentia no domínio das ações. A infância e suas peraltices cheia de sonhos nos trazem essa impressão.
O tempo nos modela. No início, achamos que o dominamos. No fim temos a certeza de que ele nos domina. Como um sábio que coordena a vida, ele dá a cada um a capacidade de aceitá-lo de acordo com as possibilidades do momento. Já não podia cometer as extravagâncias de outrora. Já não seria mais astronauta, tampouco presidente do Brasil. Nem teria mais os milhões de amigos que ouvia na infância. Seu mundo se reduzira. Seus dias se consumiram nos instantes, sua vida se misturou com o tempo. E muitos dos seus sonhos se transformaram em lembrança, uma marca do tempo. Uma prova em nós do que ele foi, de como ele passou. Lindas paisagens que imaginávamos percorrer agora estão introjetadas em nós, na arte do tempo de metabolizar a esperança e a saudade, tornando-as um alimento que corre nas nossas veias até a última batida do nosso coração.

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