quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Yesterday

Paul McCartney gosta de sair às ruas, anônimo. Anda de metrô, sente-se bem ao se ver envolvido, não como um astro, pela multidão. John Lennon era diferente. Mais radical, mais isolacionista. Um pacifista, ídolo genial que se autodestruiu em sua ilusão libertária. Aprisionou-se na tese de dominador contra dominados, para ir caminhando lentamente para a morte. McCartney parece não ter o medo de ser assassinado na rua, como seu antigo parceiro. Estou apenas tentando recompor o inconsciente dos Beatles. E me lembro que, na composição famosa de ambos, já havia sombras perseguindo. Lennon pareceu ser a vítima maior, quando o ontem chegou de repente, trazendo fantasmas do passado. Como o rugido tétrico do metrô, que leva pelo subterrâneo uma multidão embrutecida, anti-social, solapando sonhos, fazendo eles se acabarem em meio à concretude ruidosa do túnel escuro. Outros remanescentes permanecem inteiros quando passeiam na estação, sobem e descem do trem, livres, reconhecendo-se nas pessoas e respirando o anonimato de seu sucesso, evitando rupturas entre o homem e a celebridade.

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