sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Chute

O chute na bola é como um grito, expressão vinda de dentro. É o murmúrio dos sonhos, um sopro, um solfejo, uma nota musical. A trajetória que a bola toma é melódica, não importa onde ela parou. Se no pântano, na areia, no mar ou no gol. Ele chuta como canta, com suavidade, ternura, na precisa indecisão dos meninos que amam. No contato com a bola flui sua intuição.
A cada chute vejo seus contornos, sinto seu perfume, entendo seus anseios. Se chuta forte está com raiva, se faz de leve, está em paz. Se chuta para cima tem projetos de ascensão, se chuta reto, tem objetivos firmes. Seus chutes com curva mostram a superação das barreiras, os de calcanhar remetem a uma saudade. Sua comunicação está ali, impregnada na bola rolando, voando, flutuando, acima do jogo, da glória, ao balanço de suas risadas, molhada por suas lágrimas.

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