terça-feira, 12 de julho de 2011

Álbum

Vejo a foto de uma família no Facebook. Estão encostados em uma cerca, à beira de uma estrada de terra, com campos e montanhas se avolumando por trás. A mãe, elegante em uma blusa de seda branca, calça preta e salto alto. De maquiagem serena, ela usa óculos escuros, com um ar de responsabilidade que parece tentar suprir a ausência do pai. Ela está abraçando seu filhinho, um pequeno menino loiro, cabelos longos, olhar inocente. Uma das mãos o segura, de leve, nos ombros. A outra está entrelaçada em suas mãos. Ao lado das irmãs mais velhas, uma emburrada e outra sorridente, e da avó, também distinta, o garoto parece olhar para mim e me dar um recado. "Vou crescer, o mundo não é só uma fábula de Peter Pan". E ele cresceu, pelo que constatei no site, que hoje propicia verdadeiros álbuns de família em exposição. Está diferente do menino de outrora, entrelaçado à mãe. Seus cabelos ficaram ralos, ele passou por muitas vivências, separações, perdas. Seu olhar ganhou malícia. Suas palavras, ironia. Até certo ponto é triste vê-lo menino, sabendo que um dia aquela foto aconchegante seria apenas uma recordação de adulto, com toda aquela família espalhada, não mais reunida em um único lar. Também eu sinto falta da proteção da infância, apesar de todos os seus percalços. De estar ao lado do meu pai, o Céu, de minha irmã, a Terra e de minha mãe, a Vida. Vi que o menino da foto, sob os braços da mãe - hoje uma velhinha -, desde aquela época me olhava intrigado porque parecia saber muito sobre mim. Daí vinha seu olhar de desafio, um tanto intimidado, sentindo que não iria conseguir me superar, como não impediu muitas frustrações que deixaram marcas posteriormente. Eh...Ele, o menino, já me conhecia. E me emociono ao vê-lo tão menino, como me emociono ao ver meu filho vivendo agora a sua fase de menino. Meu filho é meu Universo. Meu nome é Tempo.

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