sexta-feira, 22 de julho de 2011

Boiada

Os vegetarianos se iludem porque é impossível não se comprometer. A morte dolorosa do boi, do cervo ou da galinha realmente é triste nesta guerra pela sobrevivência entre as espécies. Ainda mais para o homem, animal dotado de razão. O sentimento, unido à consciência, permite o discernimento e a reflexão, que conduzem à compaixão. Mas não dá para se livrar do fardo de se impor a outros seres vivos. Alimentar-se de vegetais, afinal, é também uma forma de destruir vidas. O vegetal também respira, se desenvolve e morre naturalmente. Assim como destruir florestas inadvertidamente para plantar soja é um crime. Justo a soja, um alimento utilizado pelos vegetarianos para substituir a carne. O jornalista e o escritor têm um dilema semelhante. Como escrever sem expelir um cisco sequer que machuque, obedecendo a uma ética que evita qualquer ofensa, colocando-se totalmente na pele do outro, impedindo na totalidade que alguém se macule? É o ideal, mas é quase impossível. Tento ser assim, me vejo isolado, antissocial até. Sinto às vezes que minhas palavras soam aos outros como as de um padre em meio a um bordel. Para ser jornalista ou escritor, é preciso se contaminar com uma astúcia que, certamente, deixará alguns feridos. Agora, por exemplo, me aventurei um pouco e posso estar melindrando os vegetarianos. As palavras, para ter repercussão, estão cada vez mais carnívoras.

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