terça-feira, 26 de julho de 2011

Ondas

O horizonte engana. Os homens vaidosos pensam que por trás de sua linha há o infinito, como se pudessem tudo, não houvesse limites para além do mar. Já os pessimistas imaginam um abismo na divisa entre o sol e o mar, quando um barco distante vai desaparecendo em suas vistas. O horizonte é a prova de que nem tudo o que vemos é real. As ondas ligam continentes. Quando estouram na areia são como mensageiras de outras paragens. O mar é um sinal concreto de vínculo entre vários pontos geográficos. Em Iracema, de José de Alencar, o guerreiro branco Martim, ao chegar à praia, se vê envolvido por uma sensação de alívio. Ele veio a pé, fugindo dos guerreiros tabajaras desde o interior do Ceará. O local o remete à sua saudosa pátria, Portugal. “Arrojou-se nas ondas e pensou banhar seu corpo nas águas da pátria, como banhara sua alma nas saudades dela”, diz um trecho. Quando volta para Portugal, com um filho e sem o seu amor, arrepende-se das ondulações da maré de seu exílio. Com a distância, no tempo e no espaço, passa também a sentir falta do Brasil - do outro lado daquele mesmo oceano. Assim é a vida, assim é o mar. Aquilo que temos são ilhas desertas. O que não temos, são portos seguros. Todos muito reais, como a saudade. Todos muito ilusórios, como o horizonte.

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