segunda-feira, 18 de junho de 2012

Alienado

Ele gostava de ver o rosto contorcido de esforço de um jogador. De admirar o suor pingando da ponta do queixo. Da boca aberta ofegante após um pique. Do beijo na camisa, principalmente se fosse de seleção. Do abraço e de uma conversa sorridente entre adversários. De um carrinho duro, mas da mão que levanta o que tombou na luta. Do drible desconcertante em jogada secundária. Adorava imaginar o desenho que a linha da bola traça durante uma longa troca de passes. Da grama, surgiam cordilheiras, triângulos, parábolas, evoluções em espiral, traços e vazios infinitos. Tudo isso acompanhado pela trilha sonora de murmúrios, urros e silêncios retendo uma emoção muda. Desde a infância, seu olhar se distanciava léguas do moralismo da vitória ou da derrota. Passava pelos rostos dos torcedores. Pela energia do estádio. Pelas falhas na pintura da marquise. Pelo sol da tarde que polvilhava raios luminosos naquela catedral. O gol somente? A tática solitária? Eram apenas para especialistas. Os que diziam que ele não entendia nada de futebol.

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