segunda-feira, 11 de junho de 2012

Silêncio

Um homem observa a chuva cair na poça da garagem externa. Silenciosamente. Uma corrente de nuvens agita o céu. Em silêncio. Na cama, o casal olha para o teto, em silêncio, refletindo sobre a vida após a transa. E o filho não sabe o que significou a ausência de palavras na resposta do pai, feita apenas com o olhar. O silêncio confunde, angustia. Mas é sagrado. Tudo acontece na sequência do silêncio. Dos calados de Raul Seixas emergem surpreendentes revelações interiores, pensadas, pouco expostas, presentes. Os tagarelas amadurecem na introspecção. Um silêncio pode ser sepulcral, nem por isso morto. Mas também pode matar. Maquiavélico. Faz isso para no cemitério nos dizer algo além das letras nas lápides. O silêncio descansa no avanço, revela temores, como uma serpente invisível que se expõe tentando se ocultar. O silêncio, irmão do tempo, também é infinito. Está na essência da música. A faz continuar quando acaba. Se ela for boa, silencia um ruído em nós. E se for ruim, tira a melodia de nossa esperança. Nem as estrelas escondem seu brilho no silêncio. O silêncio precede o choro do nascimento. Todo o universo se calou, antes da explosão inicial. E depois da vida na Terra, retornou a seu estado emblemático. Voltou a ficar em silêncio, deixando apenas os homens perdidos em seus barulhos.

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