quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Momentos

No pátio após a corrida, o moço ouvia as notícias do rádio se misturarem ao balançar das árvores e ao céu da tarde. Cada fala do âncora era como uma brisa que movimentava a cidade, incitava o canto dos pássaros, refrescava a concretude dos prédios ao redor. Neste ambiente, vislumbrou o semblante do tempo. Ouviu, então, a notícia de que um jogador teria de ficar parado por um mês, em razão de uma inflamação no joelho. Pensou na preocupação do jogador, na sua ansiedade em retornar logo, na angústia de ver os companheiros treinarem, na tensão em se sentir pressionado a voltar, a sempre fazer o melhor, a conquistar, a superar mais um dia com o um grito rotundo de seu coração vencedor. Pensou ainda, que, quando estiver aposentado, daqui a alguns anos, já no fim da vida, tudo isso não terá passado de um sopro momentâneo para o tal jogador, a cair no esquecimento, sugado por valores mais duradouros, como a maturidade, a sabedoria e o correr dos dias. Veio a ele, enquanto a noite caía como um pano sugerindo os contornos do infinito, a ideia de que as preocupações emergenciais das pessoas se desvanecem com outras preocupações, que, em escala maior, vão se eliminando enquanto a vida passa, para um dia serem vistas com um misto de bom humor e saudade. É justamente por isso, no entanto, que elas têm graça, concluiu. Um dia serão como um pequeno lapso em nossas vidas, mas, enquanto a vivenciamos, o fazemos com intensidade, obsessão, loucura, lutando pela própria identidade, pela qualidade da existência, como um urso defende sua caverna antes de hibernar em paz. Viver nada mais é do que superar continuamente o acúmulo de conflitos. São justamente as pequenas demandas rotineiras, retratadas em mínimas vitórias, que nos conduzem ao futuro. Elas parecem pequenas, mas são fundamentais. Somente por causa delas é que poderemos vê-las à distância, em outra etapa. De onde, embalados pela compreensão, poderemos olhar tudo isso do alto de nossa montanha de experiências, com outros olhos.

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