sexta-feira, 17 de junho de 2011

Prisão

Não consigo escrever textos, destes, com apetrechos.
Destes, com imagem e contexto. Detalhados em toques certeiros.
Espalhados por palavras precisas, desenhadas por contornos geométricos. Que formam figuras, cenas e histórias exatas. Cheias de ação, verossimilhanças e esperanças. Com lustres típicos, móveis rústicos, caixas de som, tensões e pessoas. Com diálogos nítidos, perfeitos no tom, na gíria, na reverência. Então busco no meu baú, ideias que tragam à tona estes textos, estes cenários de cinema. E peço, invejoso dos outros, que venham a mim e superem barreiras. E que rompam as nuvens negras que cobrem o sol escaldante do meu potencial. E olho para o céu e vejo as nuvens fecharem o tempo. Então minha visão fica plúmbea, não escrevo textos, formo frases esquálidas, desmilinguidas, inanimadas, ressecadas como o rosto de Tom Zé, sou como a afinação de Tom Zé, nas minhas sequências sedentas da luz que colore, que as encham, ansiosas pelo vento que as movimente, à espera do calor que as aqueça, e que sopre para longe, ventilando as angústias que cegam, a timidez, antes que a força interna chegue para mim e diga esqueça, esqueça. Então não resisto, largo o teclado e ordeno para o meu lado criativo, ainda ofegante de tanto chacoalhar as grades da prisão: adormeça, adormeça.

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