quarta-feira, 22 de junho de 2011

Torcedores

Dois torcedores se encontraram, casualmente, em frente à Igreja da Consolação. Um corintiano, o outro santista. Não se conheciam e não se falaram. Supersticiosos, iriam rezar o Pai Nosso para seus times, que, logo mais à noite, se enfrentariam na inédita decisão da Libertadores. Só dirigiriam súplicas a esta causa, a razão de suas vidas. De repente, um deles avistou um mendigo, deitado em frente à escadaria, desamparado, traje roto, cabelos duros, olhar acinzentado pelas agruras da cidade. Entregue, já devia ter desistido de rezar. Ao mesmo tempo, o outro viu um menino magrinho, descalço, pedindo esmola na rua e sendo desprezado pelos que passavam. Continuaram sem se falar. Mas havia alguma força no ar que transformou a rivalidade em compaixão. Sentiram que seus trajes e amuletos revelavam uma compulsão. O fanatismo clubístico ganhou uma feição de máscara, que escondia alguma dor profunda, por trás dos gritos nos estádios. Então se ajoelharam e rezaram em frente ao púlpito. O corintiano rezou pelo mendigo. O santista orou pelo menino. Sem perceber, se esqueceram de seus times. Curiosamente ainda torciam de forma diferente. Um para o mendigo, outro para o menino. Isso, porém, era o de menos. No fundo, ambos haviam unificado suas agremiações, suas crenças, suas religiões, pedindo a mesma coisa. Rezando pelos homens. Para que o menino nunca fosse um mendigo e para que o mendigo, um dia, voltasse a ser menino.

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