terça-feira, 15 de maio de 2012

Monoglota

Parecia o Pequeno Príncipe. Tinha cabelos dourados, só que lisos, olhos esverdeados, pele branca e corpo magro, de menino. Lutava, no entanto, para se desfazer desta imagem única que construiu de si mesmo. Tentava se comunicar com os outros como adulto que era. Então almoçou com o mais bem informado jornalista e, mesmo acanhado, defendeu a ponderação dos pontos de vista. A conversa esfriou logo, não conseguiu cativá-lo, seu jeito esquivo afastava as pessoas. No jantar com um amigo banqueiro ressaltou a necessidade de não rotularmos os outros no dia-a-dia. Soou estranho. Escutou como resposta algumas frases concretas, do tipo, “isso não presta para nada”, interrompidas por telefonemas sobre reuniões e negociações. Isso o fez lembrar da primeira epístola de São Paulo aos Coríntios, sobre o amor e a compreensão. Sentiu-se só, porém não iria desistir da essência do que defendia. Apenas precisava descansar naquele momento, encontrar uma fórmula. Sentou-se nos degraus da escadaria, com a cabeça encurvada sobre as pernas, para pensar. Então chorou, por somente saber falar a língua dos anjos e não conseguir se expressar na linguagem dos homens.

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