segunda-feira, 28 de maio de 2012

Telepatia

Os especialistas já afirmam que os bebês sentem tudo ao seu redor. E se manifestam à sua maneira. Eu, por exemplo, senti que o Brasil fora campão mundial de 1970 e, enquanto os rojões estouravam no céu e a multidão comemorava, chorei no berço. Meus pais deixaram os copos e foram me ver. Pensaram que era susto, mas, mesmo sem me lembrar, sei que era alegria. Desde então meu destino se ligou ao da seleção brasileira. Na Copa de 1982, a eliminação me fez sofrer como se tivesse perdido um parente. Sentia exatamente, ou até mais, o que os jogadores sentiam em campo. Esquecera-me deste vínculo até a Copa de 2010. O Brasil jogava muito bem contra a Holanda, fez um 1 a 0 e, no intervalo, o telefone tocou. Era um tio de Israel, que me demandava muita energia, porque era muito admirado por mim quando criança. Mas bem naquela hora eu não poderia falar. Pela primeira vez na história não dediquei toda a minha atenção a um jogo do Brasil em Copa. Talvez por excesso de confiança. Resultado, enquanto eu via os lances e ouvia meu tio, a Holanda fez 1 a 0 e depois 2 a 1. A conversa se encerrou, tentei recuperar o tempo perdido junto com os jogadores, mas era tarde. Chorei como sempre e só depois me dei conta da relação dos fatos. Agora, para a Copa de 2014 prometo concentração total. Nada de telefonemas, nada de desvios. Isso não tranquilizará os jogadores, eles nem me conhecem. Mas me deixará muito mais sossegado para cumprir esta tarefa silenciosa, oculta no meu anonimato. Porém sagrada para mim, pelo fato de eu saber que só eu a tenho.

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