terça-feira, 8 de junho de 2010

Platônico

Aristóteles dizia que a arte é uma saudável imitação da realidade, encenada ou escrita. Seu professor Platão era radical contra os artistas: propunha o ostracismo para os poetas da República, por considerá-los enganadores. Mas, sem saber, Platão criou uma obra de arte. Genial, o Mito da caverna projeta uma verdade em forma de representação. Nesta metáfora o homem vê um mundo fictício, submetido a paredes de pedra que o impedem de perceber outras imagens, iluminadas e reais, predominantes lá fora. Surge aí um dos primeiros paradoxos da filosofia. Platão não foi mais além.
Aristóteles é que fez este papel. Sua definição de arte serviria perfeitamente para tirar os homens das cavernas platônicas. Artista para ele imitava a vida quando criava uma tragédia, uma epopéia ou um diálogo. Por de trás das obras residia um tesouro que falava sobre ética, filosofia, moral e amor. Não se tratava necessariamente de mentira. E Platão não conseguia ver que criatividade e catarse artística são um eficaz instrumento para a saída do escuro. O discurso do aluno, portanto, superou o do professor. Platão, no fundo de suas cavernas, mostrou ter vários dilemas e deixou parte de suas teorias presas apenas a um discurso que ele resistia a por em prática. Algo de seu inconsciente o traiu, a arte parecia tocar em trauma profundo do pensador. Seria muito bom para a filosofia, e para a arte, se na época Platão pudesse ter sido atendido por Freud.

Nenhum comentário:

Postar um comentário