segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Costelas

Nasceu como qualquer criança, cheia de vitalidade. A pobreza e as brigas dos pais o levaram à rua. No farol, sob o sol, ele está diante de meu carro. Veio andando da esquina, conversando animadamente com um amigo. Aproxima-se da janela do motorista. Tem olhos castanhos, cabelos negros, pele morena. É um menino bonito, sorridente. Intuo que tem sete anos. Só não se sente totalmente abandonado porque tem amigos para brincar de esconde-esconde pelos terrenos baldios. Vi a sombra de sua infância antes mesmo dele me pedir um trocado. Foi quando levantou a camisa suja de lama, contraiu a barriga e expôs suas costelas magras, na inocência inalterada de um menino comum. Ele, que bem poderia ser meu filho, continuava sorrindo, sem maldade. Afinal, só queria me mostrar que não estava armado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário