segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Epicentro

Sou o futebol brasileiro. Vivi ontem um terremoto em minhas bases. Bem no Japão, um local de instáveis placas tectônicas. Uma escola de futebol tabelou tanto em minha frente, não me deixou pegar na bola, que passei por uma mudança de paradigmas. Pela primeira vez senti um adversário em outra dimensão. Fora do meu alcance. Senti-me pequeno, infantil até. Meu melhor jogador, considerado uma joia em meu território, parecia uma criança diante de adultos vividos, seguros e talentosos. Em todas as outras derrotas de minha história, senti um gosto amargo de frustração. Foram disputas renhidas, demorei para me conformar com a superioridade momentânea, ou com a sorte, do vencedor. Ontem, não. Despenquei de meu altar. Os escombros me impediram de ver o céu, de tocar as estrelas, onde sempre comemorei minhas conquistas e até lamentei meus infortúnios. Senti-me enterrado, ao lado de Sócrates, Garrincha, Didi e tantos outros que já me projetaram grande - o maior. A onipotência e a acomodação me fizeram ruir, tal qual o Império Romano ruiu um dia. Isso já vinha acontecendo, mas eu não percebi. A cultura distorcida de meu país não me permitiu. Talvez desde os primeiros tempos, ainda no império romano, quando um tal de Barcino fundou uma cidade, ao lado do monte Táber, este fenômeno se iniciou. As ruínas do império ainda estão lá, como as minhas. Mas já estou cansado. Desnudado. Não sinto meus pés. Percebo a geografia do futebol escapar por entre as minhas pernas, abandonar meu epicentro. Preciso fazer algo para me reerguer, mas agora, neste momento, não consigo. Estou sem perspectivas. Pela primeira vez.

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