quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Parquinho

A menininha de quatro anos ficou emburrada. A mãe deixou-a ao lado da balança para levar seu irmão menor à gangorra, do outro lado do parquinho. Isto a contrariou. A garota usava um vestidinho rosa, sapatinhos brancos e tinha cabelos castanhos um pouco compridos, iluminados pelo sol da tarde. Transparecia ares de princesinha. Ou de dama de honra de casamento. E se pôs a chorar, solitária. Soluçava e esfregava as mãozinhas nos olhos lacrimejantes. “Ninguém gosta de mim, fico sempre sozinha”, repetia. As queixas se misturavam ao alarido das crianças que brincavam na areia ou desciam no escorregador. Era uma reclamação até corriqueira, tanto que ninguém se deu conta. Somente eu. Enquanto chorava, passei por ela sem que percebesse. Já à distância, quando eu quase saía do parque, nossos olhares se encontraram, com minha cabeça voltada para trás. Ela se aquietou. Ficou me observando, com as mãos encostadas no vestido. Então acenei. Ela acenou de volta e sorriu. Foi um sorriso volumoso, cheio de brilho e alívio. Um sorriso que carregou suas lágrimas e acolheu seu pranto. Não foi só o seu semblante delicado que sorriu. Ela parecia sorrir de corpo e de alma, reconfortada em seus últimos soluços. Sorri também para ela, me virei e fui embora. Pensei que ela deve ter ficado contente. Pelo menos ela sabia que agora, no mundo, não estava só.

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