sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dionísio

Para ser artista, é preciso ter o lado direito do cérebro desenvolvido. Ele abre portas para a imaginação. As palavras navegam em rio fluente, soltas, solícitas a qualquer menção da mente que as comanda. É verdade que o comandante tem de ser um chefe com moral, estimulante, porque se elas não vislumbrarem sentido em suas existências, essas palavras, ninfas de espírito alado, voam para outras paragens, fugindo da lucidez amorosa de Apolo para se perder na loucura estéril de Dionísio, deus fragilizado por ser filho de uma mortal.
O pretenso artista cai fulminado no chão duro da razão. Desaba diante de suas mazelas não superadas, no universo aprisionante do fato concreto. Vê interrompido o canal que une suas ideias às emoções. Seu pensamento cartesiano se embriaga de solidão por campos sem fim. Ele se vê arruinado, isolado na margem esquerda cerebral, observando, do outro lado do rio, seu similar artístico desbotar como em uma pintura impressionista, até definhar por falta de inspiração. Então, em vez de músico, prosador ou poeta, ele se torna apenas jornalista.

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